Importante trabalho da USPA, o relatório anual de acidentes analisa e comunica cada um deles com o intuito de educar a comunidade e prevenir que não ocorram novamente.
Depois de quatro anos com queda acentuada no índice de fatalidades do paraquedismo civil nos EUA, incluindo um recorde de baixa de dez mortes em 2021, a contagem anual de 2022 terminou com um total decepcionante de 20 fatalidades no ano passado. Essa é a contagem mais alta desde 2017, quando chegamos a 24 mortes. Ano passado, 15 homens e cinco mulheres perderam suas vidas em 20 acidentes distintos. Mesmo considerando que quatro dos acidentes envolveram salto duplo, nenhum deles ocasionou uma fatalidade dupla.
Esse resumo procura avaliar cada um dos acidentes para determinar suas causas, geralmente o resultado de uma cadeia de eventos, que leva a um resultado trágico. Assim, buscando educar na percepção de quando uma situação de perigo está começando a se desenvolver, é possível realizar mudanças e evitar uma fatalidade.
Comumente, o problema inicial começa a se desenvolver muito antes do salto ocorrer. A prática de um paraquedismo seguro com uma forte cultura de segurança começa com o proprietário do clube-escola (Drop Zone owner) e segue abaixo na cadeia de comando passando por todo staff, os atletas mais experientes, até a base englobando o iniciado (Cat B) e o aluno (AI e A).
Através da promoção – contínua e incansável – de uma cultura (comportamento) em prol de uma prática segura do paraquedismo, seguindo nossas normas, convenções e bons exemplos, conseguiremos estabelecer o tom, o ritmo operacional nas atividades de salto, tendo a segurança como prioridade numero um.
As fatalidades a seguir estão agrupadas por categorias, listadas com o numero de mortes em cada uma e a porcentagem que representou em 2022. Abaixo, teremos a mesma porcentagem em termos das últimas duas décadas (20 anos) de atividades de saltos nos EUA, para termos um comparativo.
Aprendendo como e por que as fatalidades ocorrem, pode nos ajudar a prevenir que façamos os mesmos erros que outros fizeram e acabaram perdendo suas vidas.
PROBLEMAS NO POUSO
12 FATALIDADES – 60% do total em 2022
Quando um paraquedista vem a falecer pilotando um velame aberto e totalmente funcional, a USPA registra o acidente nessa categoria que é composta de outras três subcategorias: Sem-curva-baixa; Curva-baixa-não-intencional; Curva-baixa-intencional.
As fatalidades em cada subcategoria tem causas distintas relacionadas a diferentes áreas de treinamento e atitude.
Problemas no pouso comporta três sub-categorias:
Categoria 1 – Sem curva baixa
Um atleta que vem a falecer na categoria sem-curva-baixa pode ter colidido com algum obstáculo como edificação ou árvore, ou ainda se afogado numa superfície liquida.
Categoria 2 – Curva Baixa Não Intencional
Ela é caracterizada quando o atleta colide forte com o solo devido a execução de uma curva baixa para desviar de algum obstáculo (como outro paraquedas no ar) ou pousar com vento de nariz.
Categoria 3 – Curva Baixa Intencional
Ocorre quando o atleta inicia uma manobra intencionalmente para adquirir velocidade e realizar um pouso de alta performance mas acaba colidindo ao solo em uma velocidade mortal antes que o arco de recuperação de seu velame se inicie, dando tempo de aplicar em segurança o flare.
Historicamente, essas três situações correspondem a uma porcentagem muito significativa, mas 2022 teve um índice muito acima da média, 60% contra 43% dos 20 anos anteriores.
PROBLEMAS NO POUSO – cat. 1
Sem curva baixa (non-turn-related) – 2 fatalidades – 10% do total em 2022
CASO 1.
Uma mulher de 52 anos realizou um salto de treinamento de aluno categoria D (pelo sistema integrado, advindo do AFF) e era seu quinto salto de progressão. Depois de realizar uma saída normal, checar altitude e simular comandos, seu instrutor AFF soltou ser harness para que ela pudesse iniciar os exercícios do salto: curvas no eixo. A investigação mostrou que logo que ela é solta, entra em dorso descontrolado e segue assim até o disparo do DAA que corta o loop do reserva e o mesmo é acionado. O reserva então é aberto a uma altura muito baixa – estima-se abaixo de 600 pés – e infla por completo.
Ela teve de pousar numa floresta densa sem qualquer alternativa aberta. Seu instrutor pousou logo no limite da floresta e foi o primeiro a chegar ao local. A aluna estava consciente e alerta e contou que conseguiu desfazer os freios e aplicou o flare no topo das árvores. Colidiu com uma delas e, na medida que caía, tentou agarrar-se ao seu tronco sem sucesso. A altura da queda não pôde ser aferida. Ela foi resgatada por helicóptero até o hospital mais próximo onde recebeu cuidados imediatos, mas veio a falecer pouco mais tarde por ferimentos internos.
CASO 2.
Uma mulher de 62 anos com 822 saltos e 31 anos no esporte (média de 26 saltos por ano) estava voando seu velame elíptico de 135 pés já na reta final pra pouso em uma área aberta, sem obstáculos. Era seu 12º salto depois de diminuir o tamanho do velame do mesmo modelo, um 150 pés.
Ela havia realizado dois cursos de pilotagem e havia se inscrito recentemente para um terceiro curso que focava em iniciação a pousos com velames de alta performance. A aproximadamente 15pés, ela puxou com vigor os tirantes da frente o que fez com que o velame mergulhasse em direção ao solo, seguido do aumento repentino de velocidade. Ela colidiu ao solo numa atitude de mergulho íngreme. Recebeu socorro e cuidados imediatos, mas veio a falecer em decorrência dos ferimentos a caminho do hospital.
O que isso pode nos ensinar
Um único problema, como instabilidade em queda livre, pode desencadear outros problemas e levar a um resultado fatal. Os alunos são ensinados e treinados a comandar seus paraquedas se uma perda de estabilidade passar de cinco segundos em queda livre, ou se chegar na altura de comando, independente se estiver estável ou não. Comandando cinco segundos após a perda de controle em queda livre, permite ao aluno melhores chances para ter tempo e altitude adequados para chegar até a área de pouso designada, pousando em segurança. Entretanto, é muito fácil os alunos perderem a noção de altura, se desorientarem ou paralisarem de medo ao tentar reagir a uma situação como uma desestabilização em queda livre (capote).
Instabilidade em alunos pode acontecer em qualquer momento do salto. Quando um aluno começa a capotar ou girar, o instrutor terá pouco tempo para alcançá-lo. Os instrutores AFF aprendem a manter a distância de um braço de seus alunos em queda livre, e sempre preparados para regripá-los quando necessário. Mesmo quando os alunos vem mostrando perfeita estabilidade e consciência de altura nos saltos anteriores, os instrutores AFF devem estar sempre muito próximos de seus alunos.
Pousos de alta performance são realmente muito impressionantes e isso acaba trazendo a atenção de muitos atletas para desenvolver habilidades nessa disciplina. Aprender a fazer swoop requer muita cautela, bom senso e métodos de treinamento e prática usando sempre orientação de um coach de pouso com muita experiência e conhecimento. No nosso SIM (Skydiver’s Information Manual) há a recomendação de que os atletas se tornem muito familiarizados com as características de voo de seu velame, antes de arriscar manobras mais delicadas ou avançadas para o pouso.
Os paraquedistas devem iniciar a prática de suas manobras para pouso sempre acima de 2.500 pés até que elas se tornem consistentes e suaves, minimizando assim os riscos ao realizar essas manobras durante o pouso em si.
Pousos de alta performance aumentam consideravelmente o risco em cada salto. Saltar com frequência e executar essas manobras ajuda a promover a habilidade e a competência na execução. Atletas que possuem uma frequência anual de saltos muito baixa e se arriscam em manobras de alta performance como dive com os tirantes da frente, aumentam significativamente o risco de terem um pouso catastrófico e até fatal.
PROBLEMAS NO POUSO – cat. 2
Curva Baixa Não intencional – 2 fatalidades – 10% do total em 2022
CASO 1.
Um homem de 37 anos com 35 saltos no meio civil, outros 135 saltos enganchados (static line) no meio militar com paraquedas redondos, tendo apenas um ano de prática no paraquedismo civil, fez um salto solo com um velame 230 pés e wing loading (carga alar) de 1,1.
Quando na aproximação final, ele estava acima do esperado para onde desejava pousar. A aproximadamente 100 pés ele puxou os dois batoques e iniciou uma curva suave à esquerda com ¾ do freio. Mesmo havendo muita área de pouso à sua frente.
Ele completou quase 360º quando colidiu com o solo fortemente. Recebeu auxílio médico imediato, mas morreu no local.
CASO 2.
Um homem de 58 anos, 1.176 saltos e 35 anos no esporte, fez um salto solo com um velame de 150 pés e wing loading (carga alar) de 1,1. Era seu primeiro salto naquela DZ e seu primeiro depois de quatro meses sem saltar. Ele recebeu um briefing de solo e passou um tempo avaliando sua navegação, pouso e o vento em solo.
O relatório desse acidente não informou a intensidade do vento, mas uma estação meteorológica próxima (40km) reportou uma média de 32km/h, com rajadas de 56km/h no momento do acidente.
O atleta executou sua última curva para a reta final acima do que havia planejado para seu ponto de pouso. Ele então puxou ambos batoques para baixo, mantendo o velame em freio total e realizou curvas à direita e esquerda pra diminuir sua velocidade de deslocamento horizontal.
O velame então colapsou parcialmente iniciando uma curva à esquerda em direção a um obstáculo. Ele reagiu executando uma curva à direita para, aparentemente, evitar o obstáculo e voltar ao eixo do vento. Entretanto não houve altura suficiente pra completar a curva o que fez que atingisse o solo violentamente.
Ele recebeu atendimento médico imediato mas foi declarado morto no local.
O que isso pode nos ensinar
Todo aluno de primeiro salto aprende as prioridades básicas em um pouso:
PROBLEMAS NO POUSO – cat. 3
Curva Baixa intencional – 8 fatalidades – 40% do total em 2022
CASO 1.
Um homem de 33 anos e 934 saltos com sete anos de experiência, estava saltando um velame cross braced de 90 pés e um wing loading (carga alar) de 2,11. Ele iniciou uma curva de aproximação final de 270º e colidiu com o solo numa descida íngreme, ainda em mergulho. O forte impacto tirou-lhe a vida instantaneamente.
CASO 2.
Um homem de 47 anos com 492 saltos e três anos no esporte estava saltando com um velame elíptico de 150 pés e um wing loading (carga alar) de 1,3. Ele já havia reclamado que seus tirantes de perna estavam escorregando, mas continuou saltando com o mesmo equipo. Depois de uma queda livre sem incidentes e com o velame aberto, ele teve de ajustar seus tirantes de perna na navegação. Mas o tirante esquerdo estava mais apertado que o direito, causando o velame a uma tendência de giro à esquerda.
Ele continuou sua navegação sempre compensando para a direita por conta do desajuste e possivelmente estar enfrentando mais soltura do tirante de perna. Apesar de ele aparentemente conseguir equalizar o voo do velame ao longo da navegação, ele decidiu realizar uma curva de 90º para a sua direita na aproximação final. No momento que o velame entra em recuperação da curva à direita, ele inadvertidamente entra numa curva à esquerda ocasionando um mergulho até colidir com o solo.
Ele teve pronto atendimento na DZ, foi transferido para o hospital mais próximo, mas veio a falecer momentos após chegar ao hospital.
CASO 3.
Um homem de 36 anos com 730 saltos e quatro anos de experiência no esporte estava saltando com um velame cross braced de 103 pés e um wing loading (carga alar) de 1,85 e treinava pousos para um campeonato que seria realizado em breve. Ele iniciou uma curva para sua aproximação final muito baixo e colidiu diretamente na água do swoop pound num ângulo aproximado de 45º, sem conseguir recuperar do mergulho.
Ele inicialmente levantou-se depois do pouso, mas em seguida caiu de volta na água e permaneceu inerte. Foi declarado morto quando tentaram socorrê-lo.
CASO 4.
Um homem de 37 anos com 9000 saltos e 13 anos no esporte estava saltando com um velame cross braced de 79 pés e um wing loading (carga alar) de 2,4. Esse atleta era muito experiente em pousos de alta performance e geralmente realizava uma curva de 450º para a aproximação final para o pouso. Nesse salto em particular ele estava baixo demais para os 450º, então preferiu realizar um 180 em um local menos familiar na área de pouso.
Quando ele terminou a manobra, ele imediatamente aplicou os freios (puxou os batoques) para arredondar a aproximação. Entretanto não havia mais altura para tal e ele veio a colidir com o solo praticamente junto com o velame. Sua morte foi instantânea.
CASO 5.
Um homem de 55 anos, 1.480 saltos e 22 anos de experiência no esporte estava usando um velame cross-braced de 79 pés com wing loading (carga alar) de 2,15 para um salto de demonstração dentro de uma área restrita (Nivel 2, segundo o manual USPA) ao entardecer.
Era um estádio de futebol de uma escola do ensino médio local. Esse tipo de salto requer uma licença PRO, algo que ele não possuía. Apesar de ele já ter feito vários outros saltos sem maiores complicações no mesmo local com o mesmo velame.
Neste salto, ele iniciou uma curva de 360º numa altura desconhecida na extremidade do estádio para executar um pouso de alta performance. As investigações apontam que ele não realizou nenhuma tentativa de aplicar freios ou tirantes traseiros para sair do mergulho e colidiu com o solo em alta velocidade a um ângulo estimado de 30º. Devido ao forte impacto, ele morreu instantaneamente.
Nota: As próximas três fatalidades de curva baixa intencional
são de passageiros tandem
CASO 6.
Um homem de 52 anos em seu primeiro salto, foi realizar um salto duplo com um instrutor tandem de 54 anos, 4.000 saltos e seis anos no esporte. Os ventos de solo eram suaves e variavam em direção e intensidade. Depois de uma queda livre sem imprevistos, e uma navegação sem intercorrências, o instrutor iniciou uma curva de 270º a aproximadamente 100 pés de altura.
O par colidiu ao solo durante o mergulho da curva, bem na beirada do swoop pound da DZ e continuou pra dentro da água. Os socorristas conseguiram retirar a dupla do pound pouco menos de um minuto após a queda.
O passageiro morreu no impacto. Um helicóptero evacuou o instrutor para o hospital local, onde mais tarde foi diagnosticado com múltiplas fraturas no corpo, além do crânio.
Testemunhas afirmaram que o instrutor à tempos vinha sendo advertido por realizar curvas baixas em saltos Tandem.
CASO 7.
Um homem de 22 anos estava realizando seu primeiro salto, um tandem, com um instrutor de 28 anos com 1600 saltos e cinco anos de experiência. Registros do tempo pelo horário do ocorrido indicavam ventos de 35km/h com rajadas de 48km/h. Análises posteriores do vídeo do pouso, mostrou o instrutor realizando uma curva de 180º a aproximadamente 100 pés.
O par colidiu com o solo numa atitude de mergulho íngreme e o passageiro faleceu instantaneamente com o impacto. Já o instrutor sofreu fraturas múltiplas mas espera-se seu pronto restabelecimento. Mais tarde o instrutor afirmou que ele sempre realiza uma manobra de 180º quando os ventos estão mais fortes.
CASO 8.
Um homem de 34 anos, no seu primeiro salto duplo, estava sendo levado pelo seu instrutor de 56 anos com 1.374 saltos e 21 anos de experiência. Depois de realizar rotineiramente o salto, nos momentos finais da navegação, o instrutor tentou realizar uma curva de 180º a aproximadamente 100 pés, levando os dois a atingir o solo em alta velocidade com o velame ainda em mergulho. O passageiro morreu a caminho do hospital.
O instrutor sofreu múltiplas fraturas, além de inchaço no cérebro. Após investigações sobre as condições do tempo no momento do acidente, uma estação climática localizada a 30km do local, mostrava ventos de 35km/h com rajadas de 51km/h.
O que isso pode nos ensinar
Um velame pequeno significa uma carga alar maior e portanto uma velocidade horizontal e descendente muito superior. Em quase toda área de salto, atletas que voam velames pequenos e performáticos, atingem em suas aproximações velocidades que chegam a alcançar as da queda-livre para executar seu pouso de alta performance. Essas aproximações exigem um olhar atento e uma execução impecável todas as vezes. Não há espaço para erros e cada pouso requer constante controle e uso dos tirantes, peso no harness e os batoques. Ninguém é capaz de atingir a perfeição em todas as aproximações e pousos. O risco de se perder em um erro muito possivelmente pode levar o atleta à morte ou sérias consequências físicas de saúde para toda sua vida. Você precisa se perguntar se o risco vale a recompensa.
Muitas das fatalidades nessa categoria este ano ocorreram com atletas que estavam pousando fora de suas áreas de pouso familiar. Uma área de pouso não familiar, não é o local para se tentar um pouso de alta performance. Uma aproximação mais lenta e cautelosa em uma área não familiar, onde o visual será diferente do que estamos acostumados, é uma atitude mais segura a ser tomada.
Velames bem pequenos podem percorrer facilmente a limitação de espaço que existe em um campo de futebol. Quando você tentar realizar um swoop por toda distância de um campo de futebol, a aproximação deverá ser com alto grau de inclinação e velocidade, e não haverá qualquer alternativa para ajustar a manobra, se necessário. As plateias ficam impressionadas com um paraquedas pousando suavemente no meio do gramado, mas não uma tentativa mal sucedida em alta velocidade de percorrer todo o campo.
Quando um atleta é morto ou se machuca na tentativa de realizar um pouso de alta performance dentro de um evento público esportivo, pode ser devastador não apenas para seus amigos e familiares, mas também àqueles que acabam testemunhando uma carnificina.
Uma das cinco atitudes mais perigosas na aviação é a anti-autoridade, ou melhor dizendo, não seguir as regras.
Saltar em áreas que requerem uma licença PRO sem que se tenha a licença, é um sinal desse comportamento. A licença PRO requer excelentes habilidades em precisão, e não apenas a habilidade de pousar em qualquer lugar com a extensão ou o tamanho de um campo de futebol.
Saltar em áreas públicas também requer julgamento sólido e habilidades de tomada de decisão para garantir que a segurança pública seja uma prioridade.
Os passageiros tandem confiam inteiramente nas escolas que escolhem e em seus instrutores para sua segurança no salto. Enquanto a esmagadora maioria dos saltos Tandem ocorrem sem qualquer incidente a cada ano, três passageiros morreram em decorrência das aproximações finais executadas com curva baixa e amplitude acima de 90º.
Duas das fatalidades ocorreram em situação de ventos fortes com rajadas ainda maiores. E todas as três, os instrutores violaram os requisitos básicos de segurança que proíbem o profissional de realizar curvas na final pra pouso acima de 90º e abaixo de 500 pés.
A USPA criou essa regra justamente para prevenir esse tipo de fatalidade. Instrutores tandem que estejam violando os requisitos básicos de segurança não podem seguir saltando até que passem por um novo treinamento ou atos disciplinares, se necessário. Além disso, instrutores tandem, RTAs e donos de escola precisam estar prontos para suspender a operação de saltos quando os ventos aumentarem de intensidade e instabilidade (rajadas).
PROBLEMAS MÉDICOS
1 fatalidade – 5% do total em 2022
Quando o atleta morre durante uma emergência médica após se lançar de uma aeronave ou comete suicídio enfrentando lutas internas de saúde mental, entra nessa categoria.
CASO 1.
Uma mulher de 39 anos, 1.000 saltos e nove anos no esporte, lançou-se de um Twin Otter a 5.000 pés e imediatamente comandou seu principal. Uma testemunha em solo observou ela a 1.000 pés navegando com vento de cauda. Quando ela chegou a aproximadamente 500 pés, a testemunha observou que seus braços estavam estendidos para baixo e inertes, sua cabeça estava inclinada para um dos lados e ela não se mexia. Bem próximo ao pouso ela moveu sutilmente seu braço esquerdo, mas colidiu com o solo em voo total do velame, com vento de cauda e sem fazer o flare.
Mesmo ela recebendo primeiros socorros imediatamente, o pouso causou danos severos ao crânio e pescoço. Ela morreu no local.
Investigadores relataram que os freios foram soltos e o slider colapsado, indicando que ela teve uma abertura normal do velame mas deve ter tido algum problema médico na navegação. Esse foi seu primeiro salto depois de quatro meses de uma cirurgia por conta de uma fratura em seu tornozelo. Relatório de autópsias podem ajudar a concluir o que houve com o organismo e quase sempre conseguimos acesso para verificar os acidentes em nosso esporte. Mas infelizmente a autópsia desse caso não foi disponibilizada.
O que isso pode nos ensinar
A prática do paraquedismo traz, em algum grau, estresse fisiológico ao corpo até mesmo pra atletas muito experientes. Atletas de mais idade ou aqueles que possuem histórico familiar de problemas médicos precisam manter um olhar mais atento em sua saúde.
Muitos problemas médicos podem ser detectados com exames periódicos. Após a realização de uma cirurgia, o risco de se desenvolver um coágulo sanguíneo que viaje pelas nossas veias, aumenta. Isso pode causar problemas médicos sérios e debilitantes. Por isso é muito importante ter alta médica para saltar depois de qualquer tipo de cirurgia.
PROCEDIMENTO DE EMERGÊNCIA INCORRETO
2 fatalidades – 10% do total em 2022
CASO 1.
Um instrutor tandem de 39 anos sem relato de sua experiência e 13 anos saltando, executou saída de um Cessna 182 a 7.600 pés num salto tandem com um passageiro em seu primeiro salto. Ele liberou o drogue e veio a acionar o principal a 3.800 pés, 1.200 abaixo do estipulado. Pelas normas pressupõe-se acionamento mínimo de 5.000 nos saltos Tandem.
O motivo pelo qual ele acionou baixo é desconhecido mas pode ter sido pelo fato de tentar acrescentar mais queda livre ao salto visto que ele teve início a uma altura relativamente baixa.
Investigações concluíram que, ao acionar o punho para iniciar o processo de abertura, a bolsa do principal foi extraída pelo drogue, mas o principal manteve-se na bolsa e não inflou, criando uma pane de alta velocidade, uma bag lock. Quando foi analisada a filmagem de sua handycam, o vídeo mostra que em reação à pane, o instrutor aciona o punho do reserva antes do punho desconector.
O velame reserva então enrosca-se brevemente com o principal ainda na bolsa, mas assim que o instrutor puxa o desconector, o principal é liberado sem emaranhar-se ao reserva. Entretanto, o choque inicial do reserva em abertura com a bolsa do principal, causou um line over no reserva.
Se o instrutor tivesse puxado o desconector antes do reserva, o reserva certamente teria tido um ar limpo pra abrir e inflar sem problemas. Infelizmente, por conta do line over, ele inflou apenas parcialmente com o slider a meio caminho das linhas. O par então seguiu girando até o chão com um reserva parcialmente inflado.
O forte impacto matou o instrutor e seu passageiro sofreu ferimentos graves mas espera que se recupere prontamente.
CASO 2.
Uma mulher de 26 anos com sete saltos e perto de um ano de experiência no esporte saltou a 14.000 pés para o seu primeiro salto AFF. Ela já havia feito seis saltos duplos no ano anterior, por conta do seu treinamento em progressão de saltos tandem, seguindo um curso de primeiro salto para prepará-la ao AFF, que um instrutor devidamente licenciado conduziu.
Durante o salto AFF, já em queda-livre, seu instrutor deu um sinal de mão para que checasse o altímetro a 6.100 pés, mas ela não respondeu. A 4.700 pés, o instrutor tentou acionar o principal da aluna mas perdeu o contato (grip) com ela. Ele então conseguiu regripá-la a 3.000 pés e puxou o lado reserva do sistema BOC do principal do container, o que abriu a bolsa (BOC) do pilotinho permitindo a extração do mesmo. Entretanto, o pilotinho hesitou, preso à turbulência das costas da aluna até 2.000 pés. A partir daí a bridle se estendeu até todo seu comprimento, mas o pilotinho não inflou. O pilotinho teve arrasto somente pra extrair o pino do container, mantendo a bolsa do principal no container, com as linhas estocadas.
A aproximadamente 1.400 pés a aluna tentou então comandar seu principal levando a mão ao punho do principal localizado na BOC. E depois levou as duas mãos. O instrutor comandou seu principal a 800 pés e seu DAA ativou seu reserva no mesmo momento.
E muito próximo desse instante, o DAA da aluna também foi acionado e o reserva iniciou sua sequencia de abertura. Investigadores acreditam que o principal abriu em frente ao reserva, o que impediu a abertura do reserva.
Os dois velames inflaram parcialmente antes de ela colidir ao solo. O impacto forte matou-a instantaneamente.
O que isso pode nos ensinar
Independente em qual altura um salto tandem é realizado, os Requerimentos Básicos de Segurança preconizam que o instrutor libere o drogue release nunca abaixo de 5.000 pés para que a sequencia de abertura do principal seja iniciada. Ter uma pane de alta velocidade depois de acionar o principal a 3.800 pés, significa que se alcançará a altura limite para uma decisão final (3.000 pés) muito rápido! Isso pode causar stress no instrutor que precisa tomar uma decisão quase instantânea quanto aos procedimentos de emergência e, com isso, aumentam as chances dele realizá-los incorretamente.
O primeiro salto na carreira de um paraquedista, mesmo ele tendo feito alguns saltos duplos posteriormente, é uma experiência muito intensa e complexa. Uma das reações ao medo ou pavor, é de congelar e simplesmente não agir. Geralmente por um momento muito curto. Por isso é impossível prever qual performance um aluno iniciante terá no salto, o que destaca a incrível responsabilidade que todo instrutor terá em assistir o aluno.
As coisas acontecem muito rapidamente durante um salto AFF, especialmente abaixo de 6.000 pés quando a sequencia de acionamento deve ter seu início. Entretanto, seguir em queda livre até a altura crítica do disparo de DAAs põe em perigo não só o aluno, mas o instrutor também.
As regras para a atitude do instrutor num caso como esse deixa claro que se o principal do aluno não pode ser acionado, o instrutor precisa acionar o reserva a 3.500 pés. e adverte que, sob nenhuma circunstância, o instrutor deve se manter em queda-livre abaixo de sua altura mínima de acionamento do principal, ou seja 2.500 pés.
PROBLEMAS COM O EQUIPAMENTO
2 fatalidades – 10% do total em 2022
CASO 1.
Um homem de 35 anos com 1.600 saltos e três anos de esporte comandou seu velame semi-elíptico de 230 pés numa altura que não foi relatada. O velame abriu com twist nas linhas, as quais ele conseguiu se livrar. A filmagem de sua handycam mostra que ao se livrar do twist, ele descobre que seu velame está com os tirantes torcidos, provavelmente devido a um “tombo” quando deixado para dobrar e não identificado na execução da dobragem do principal. Isso causa uma torção em cada tirante e por consequência nas linhas de freio.
O atleta decidiu continuar sua navegação mesmo assim, utilizando os tirantes traseiros para suas curvas, mantendo os batoques freados, sem soltá-los.
Quando atingiu a altura aproximada de 800 pés, testemunhas em solo observaram que o velame entrou em curva. O vídeo mostra que ele acidentalmente liberou o freio direito, quando puxava o tirante do outro lado, ocasionando uma curva acentuada à esquerda. Ele passou o tempo restante tentado liberar o freio esquerdo até colidir com o solo num giro muito forte. Mesmo tendo recebido socorro médico imediato, o impacto já o havia matado instantaneamente.
CASO 2.
Um homem de 38 anos com 4.750 saltos e 18 anos de experiência acionou seu velame cross braced de 84 pés a aproximadamente 3.500 pés, depois de realizar um 2-way freefly.
O velame tinha um slider removível e avaliando o vídeo do atleta, o anel posterior direito soltou-se do slider na abertura, fazendo com que o slider mantivesse-se conectado assimetricamente ao velame pelos três anéis restantes. Isso fez com que o velame iniciasse uma tendência de giro lenta.
Ele então passa perto de 30 segundos tentando alcançar o slider, com os freios ainda feitos, mantendo o giro lento. Assim que ele consegue remover o slider, ele já estava perto de 1.500 pés de altura. Então ele puxa o freio direito soltando-o, sem soltar o esquerdo, o que inicia uma curva acentuada à esquerda. Nesse momento as duas mãos somem do alcance do vídeo por um segundo, e na sequencia elas reaparecem com ele tentando puxar o tirante traseiro direito na tentativa de anular o giro. Isso fez com que o giro diminuísse de intensidade, mas sem anulá-lo.
Ele colidiu ao solo num giro descendente muito forte, ocasionando sua morte instantânea.
O que isso pode nos ensinar
Pode ser fácil convencer-se a tentar resolver o problema de um velame principal que está aberto e inflado, mesmo sabendo que há problemas com componentes críticos. Focar no problema pode levar a perda da noção da altura e, antes que você venha a perceber, já passou sua altura para tomada de decisão e baixo demais para desconectar. Paraquedistas devem conduzir sempre um cheque básico de seu velame (soltar os facionamento baixo reios, curva a esquerda, a direita e depois um flare) e respeitar sempre a altitude mínima para uma tomada de decisão.
Se o velame não passar pelo teste funcional, inicie o seu procedimento de emergência a pelo menos 2.500 pés para alunos AI e A, e 1.800 para categorias B ou superior. No caso de salto Tandem, acima de 3.000 pés.
Uma pane de giro pode perder até 300 pés de altura a cada revolução (360º). Com essa razão de queda, é fácil compreender que o atleta pode se colocar em perigo muito rapidamente.
Velames em giro rápido também forçam o sangue para as pernas e pra longe do cérebro, prejudicando uma rápida tomada de decisão e até desorientação.
Quanto mais você se mantiver num giro, mais difícil se tornará sua concentração e a execução do procedimento de emergência. Velames em curva também costumam girar mais rápido com o tempo, acelerando a descida e diminuindo o tempo para uma tomada de decisão.
ACIONAMENTO BAIXO
1 fatalidade – 5% do total em 2022
CASO 1.
Um homem de 70 anos com 371 saltos e 28 anos de experiência fez um salto de 6way (FQL) que correu bem até a separação. Nenhum dos participantes do salto observaram seu tracking ou comando. Mais tarde, descobriu-se que o seu DAA havia sido acionado, juntamente com o comando baixo do seu principal. Esse atleta tinha um histórico de acionar seu paraquedas a baixa altura.
Uma testemunha em solo observou-o a aproximadamente 500 pés com seu principal aberto e voando normalmente. Mas com seu pilotinho do reserva pra fora do container e a bridle toda estendida, porém sua velocidade de voo era baixa demais para extrair a freebag do container. Se ele tivesse continuado o restante da navegação sob seu principal, possivelmente teria pousado em segurança, levando em conta que o reserva não seria extraído e inflado.
Apenas poucos momentos depois, ele desconectou o principal – talvez preocupado que o reserva estaria prestes a ser extraído e inflado – e colidiu ao solo antes mesmo da freebag sair do container. Seu equipamento não estava equipado com um RSL, mas isso possivelmente não o teria salvo, pois o reserva já havia sido acionado e ele se encontrava muito baixo. O impacto ao solo matou-o instantaneamente.
Uma inspeção do seu equipamento mostrou que o DAA havia sido acionado e o atleta havia acionado ambos os punhos (desconector e reserva). Não havia nada impedindo a freebag de ser extraída.
O que isso pode nos ensinar
Os requerimentos básicos de segurança exigem que atletas categorizados de B até D iniciem o acionamento do seu principal acima de 2.500 pés.
Atletas antigos que não saltam com frequência podem aumentar sua segurança evitando situações extremas que tragam tensão para tomadas de decisões cruciais.
Utilizando alturas mais conservadoras para comandar seus principais, terão mais tempo para uma eventual tomada de decisão.
Algumas emergências requerem uma resposta específica e imediata, como por exemplo optar em comandar o seu reserva, caso esteja com alguma dificuldade em comandar o principal já numa altura crítica, segundo seu próprio critério de segurança. Às vezes uma situação fora do comum requer reflexão e análise antes de agir pois tomar uma decisão errada, pode ser fatal.
Ter conhecimento profundo de como seu equipamento funciona, praticar constantemente procedimentos de emergência num equipamento suspenso e manter consciência e atenção constantes ao longo do salto (até o pouso), pode te ajudar a tomar as decisões corretas quando enfrentar uma emergência.
DESCONEXÃO BAIXA
2 fatalidades – 10% do total em 2022
CASO 1.
Uma mulher de 65 anos com 6.700 saltos e 38 anos de experiência realizou um 7-way (FQL) que ocorreu normalmente até a separação. Investigadores relataram que ela acionou a aproximadamente 2.500 pés e estava com seu principal totalmente inflado a 1.800 pés, mas com twist nas linhas. Ele começou a girar pouco depois de abrir. Descobriu-se posteriormente que o batoque direito estava alojado e freado, e o da esquerda totalmente solto.
O giro continuou por 32 segundos até a atleta puxar o desconector a aproximadamente 200 pés do solo. O container não tinha um RSL e o punho do reserva estava intacto. Ela colidiu sem acionar o reserva e morreu instantaneamente.
CASO 2.
Um homem de 73 anos com 4.702 saltos e 20 anos de paraquedismo realizou um salto de 26-way de um Twin Otter (avião turboélice bimotor) e um companheiro de salto testemunhou o atleta em queda livre em posição lateral, girando rapidamente. Na sequencia ele comandou o principal em posição instável e girando, o que ocasionou um forte twist nas linhas. A uma altura aproximada de 250 pés ele desconectou o principal e comandou o punho do reserva. Entretanto, o reserva que estava em processo de abertura, não teve altura ou tempo o suficiente para abrir por completo.
Testemunhas relataram depois que há a possiblidade de ele ter enfrentado alguma emergência médica que causou sua instabilidade em queda-livre. Nenhum resultado de autópsia nos foi disponibilizado, então é impossível determinar se esse atleta teve alguma emergência médica durante o salto.
Seu equipamento possuía um RSL, mas não estava conectado. Entretanto, mesmo que o RSL tivesse acionado o reserva instantaneamente após a desconexão, possivelmente não teria havido altura o suficiente para inflar-se. Não foi comunicado se o atleta fazia uso de um DAA, mas mesmo assim seria improvável que os parâmetros de ativação fossem alcançados com o velame em giros ou depois de desconectar.
Sem que o reserva chegasse a inflar por completo, ele bateu forte ao solo e faleceu instantaneamente.
O que isso pode nos ensinar
A causa mais comum de uma pane com twist nas linhas e giros é um batoque desalojado (freio desfeito ou toogle fire) em um dos tirantes. Atletas devem inspecionar seus equipamentos frequentemente e escolher dobradores que tenham conhecimento técnico e zelo. Sempre com atenção especial aos tirantes, alojamentos dos batoques (toggle cases) e as linhas de freio, pois esses itens desgastam mais rápido que outros componentes por conta do uso contínuo e intenso a cada salto.
É fácil perder a noção do tempo e altura durante uma pane com giro do principal. Quando encarar uma emergência, é crítico que se cheque a altura e se inicie os procedimentos de emergência acima de 1.800 pés (Cat B a D) ou 2.500 pés (Cat AI e A).
Idade é outro fator a ser considerado na prática do paraquedismo. Tempo de reação, flexibilidade e força começam a diminuir rapidamente a partir dos 50 anos. Acionar o principal a alturas mais conservadoras, permite mais tempo pra reagir corretamente e iniciar o procedimento de emergência. Também é aconselhável que os mais velhos façam check-ups regulares para detectar problemas médicos com antecedência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pousos de alta performance
Como em muitos anos anteriores, a falha em pousar um velame em perfeito funcionamento foi uma porcentagem significante de todas as fatalidades de 2022.
Doze pessoas morreram por conta de maus pousos, incluindo dez devido a curvas baixas. Fatalidades de curva baixa vem ocorrendo desde o advento do velame quadrado na década de 1970, mas realmente começou a crescer no início da década de 1990 quando avanços nos designs e materiais dos velames proporcionaram grandes ganhos em desempenho.
Enquanto os designs continuaram a melhorar e a média de carga alar cresceu, mais paraquedistas começaram a utilizar velames para os quais eles ainda não tinham a capacidade técnica e a habilidade para voá-los.
Downsizings rápidos e/ou abruptos (seja pela carga alar, modelo do aerofólio, ou ambos) tem sido um problema constante, quando atletas decidem utilizar velames que são demasiado pequenos e rápidos para seu nível de experiência. Siga sempre as normas reguladoras do esporte, ouça os mais experientes e, se você já acha que tem experiência o suficiente, não deixe de dar ouvidos a um companheiro com o qual você salta ou encontra na DZ com frequência.
Também é muito importante salientar que muitos acidentes com lesões graves ou gravíssimas que alteram a vida das pessoas ocorreram em 2022, mas não estão incluídas neste relatório anual por que não foram fatais. Tentativas mal sucedidas de pousos de alta performance causaram a maioria deles.
Apesar do risco associado a pousos de alta velocidade, inúmeros paraquedistas continuam a fazê-los. Conscientização e treinamento podem ajudar a minimizar os riscos, mas há consequências devastadoras quando ocorre um erro de julgamento numa curva profunda e acentuada próximo ao chão.
Alunos/Passageiros
Talvez a estatística mais trágica de todo ano de 2022 foi a morte de cinco alunos (três tandem e dois AFF) e um instrutor tandem.
Três passageiros vieram a falecer depois que seus instrutores realizaram curvas perigosamente baixas, sendo duas delas sob condições adversas de vento (forte e com rajadas).
Um salto tandem jamais deveria ter qualquer tentativa de pouso em alta performance ou grandes velocidades.
Fabricantes vem reduzindo gradativamente o tamanho dos velames principais para o salto duplo, na medida que os designs dos aerofólios permitem performances melhores.
Com velames menores e consequentemente maior carga alar, há invariavelmente uma descida (mergulho) mais íngreme e velocidade muito mais rápida em voo e no pouso. Tudo isso somados, aumentam as chances de lesões graves e até a morte se o instrutor não conseguir lidar com o pouso corretamente.
Depois de examinar anos de dados dos acidentes, o Conselho de Diretores da USPA concluiu que a extensão e gravidade dos ferimentos ocasionados aos instrutores e passageiros tandem, tinham relação direta com pousos onde a amplitude da curva final era alta.
Assim, o Conselho decidiu por adicionar um requisito às normas proibindo qualquer curva final para pouso superior a 90º e abaixo de 500 pés de altura. Se esses três instrutores tandem tivessem seguido essa norma, seus passageiros estariam vivos hoje.
Operar em condições de ventos fortes também aumentam os riscos no salto. Alguns instrutores tandem falsamente acreditam que uma curva de 180º é necessária para pousar em dias de ventos fortes. Em cada uma das quatro fatalidades envolvendo tandem, o instrutor violou ao menos uma das normas básicas de segurança, o que demonstra a grande importância de segui-las.
Não há qualquer garantia de que um aluno AFF se manterá estável e com consciência de altura em cada salto. O instrutor AFF deve trabalhar agressivamente próximo de seu aluno após soltá-lo em queda livre, para que possa regripá-lo e assisti-lo, se necessário.
Dispositivos de Segurança
Apesar das estatísticas mostrarem que o Stevens (RSL) ou o MARD (Main-Assisted-Reserve-Deployment – Dispositivo de Acionamento do Reserva pelo Principal, os SkyHooks e semelhantes) são valiosos como dispositivos de back-up para assegurar que o paraquedas reserva abra o mais rápido possível depois de um cutaway (desconexão), ainda há paraquedistas que optam em não utilizá-los.
Três fatalidades envolveram desconexões a baixa altura (Num dos casos descritos neste relatório, o container do reserva já se encontrava aberto, então um RSL não teria feito diferença alguma, mas um MARD, talvez).
Em todos os casos pode ser que não houvesse altura o suficiente para o reserva abrir por completo, mas uma ativação instantânea do reserva via RSL ou MARD teria oferecido maiores chances de sobrevivência.
Procedimentos de Emergência
Respostas tardias para problemas com o principal continua a ser problemático. A USPA recomenda que paraquedistas categorizados entre licenças B e D iniciem seus procedimentos de emergência antes de 1.800 pés de altura e os alunos Cat AI e A, antes de 2.500 pés. Alturas de acionamento e tomadas de decisão existem por algum motivo: para ajudar a garantir que o principal ou o reserva estejam abertos totalmente em uma altura segura.
Twist nas linhas podem ser resolvidos se o velame estiver voando reto e nivelado. Por outro lado, deveríamos tratar twist nas linhas em giro como emergência que requer uma desconexão se não puderem ser resolvidas até o giro tornar-se agressivo, ou estiver próximo da altura de decisão.
Durante uma situação dessas, o velame está perdendo altura rapidamente e uma ação precisa ser tomada.
Boas notícias – Uso generalizado de DAAs e Colisão de velames
Nem todas as noticias em 2022 foram ruins. Foi o sétimo ano seguido sem nenhuma fatalidade na categoria no-pull (Sem acionamento), e outros cinco anos sem colisões de velames. Essas categorias já contribuíram significativamente nas fatalidades anuais no passado.
O uso generalizado de dispositivos de acionamento automático e alturas de acionamento mais elevadas combinaram-se para garantir que atletas tenham um principal ou reserva abertos a uma altura segura.
Em 2007 a USPA começou a exigir às áreas de salto que passassem a ter zonas de pouso distintas para velames de alta performance e os demais. E também que fossem lançados separadamente. Esses requisitos de distanciamento ajudaram a tornar o espaço aéreo acima de nossas áreas de pouso o mais seguro possível. Mas ainda assim é necessário atenção constante a cada salto em manter distâncias seguras de outros paraquedas desde a abertura até o pouso.
Os paraquedistas que faleceram em 2022 eram muito experientes, estavam sob supervisão de alguém muito experiente ou tiverem treinamento intenso antes de seus saltos, o que serve para mostrar que mesmo com treinamento e experiência, as fatalidades podem ocorrer – e vão – quando os atletas não seguirem as regras e diretrizes para a prática de um paraquedismo seguro. O aumento de acidentes fatais em 2022 foi um retrocesso decepcionante. Não é incomum que haja picos ocasionais de tendência e o pico desse ano de 20 fatalidades ainda está abaixo da média anual de apenas cinco anos atrás.
Se nós aprendemos alguma coisa sobre o ano passado, foi que, não seguir regras e recomendações pode rapidamente se transformar num acidente fatal. Nós podemos fazer melhor e nós FAREMOS!
Prometa a si mesmo que você fará todo o possível para saltar em segurança e voltar pra casa no final do dia. Sua família, amigos e outros paraquedistas contam com você.
Sobre o autor
Jim Crouch foi Diretor de Segurança e Treinamento de 2008 a 2018 na USPA e tem inúmeras licenças profissionais desde Tandem, AFF e Rigger. Com mais de 5.000 saltos, além de possuir duas áreas de saltos nos EUA, ele tem elaborado os relatórios de fatalidade desde 2019.