Ação Social

O paraquedismo na defesa do Autismo

Rejane Damasceno
Rejane Damasceno
13/11/2023 às 09:43

O Salto Azul é um projeto de conscientização do autismo utilizando o paraquedismo para trazer luz e reflexão na necessidade de defesa e proteção desses indivíduos vulneráveis, especialmente na fase infantil.

Por Rejane Damasceno

O evento do Salto Azul reuniu mais de 500 pessoas na Céu Azul em Piracicaba, totalizando mais de 1000 pessoas nos 3 eventos.

O Salto Azul surgiu do desejo de unir as minhas duas paixões: o paraquedismo como modalidade esportiva e a minha profissão como terapeuta ocupacional. No paraquedismo realizei perto de 140 saltos, somados durante o período de dois anos que me iniciei no esporte. Já na terapia ocupacional, atuo há 16 anos no desenvolvimento de crianças com transtorno do espectro autista. E foi através de uma conversa com a Mariana Fernandes, Advogada e Mestre em Direitos Humanos, percebi que tanto no contexto do esporte como na minha profissão, enfrento diariamente o preconceito social que existe pela constante falta de compreensão e informação. E por isso decidimos elaborar juntas o projeto Salto Azul.

As idealizadoras da iniciativa Rejane Damaceno e Mariana Fernandes. No meio delas um cão terapeuta.

O paraquedista em um momento ou outro é taxado como louco, a tal ponto de ouvir: “se fosse para voar, você teria nascido com asas”. Isso, por mais que haja um pouco de humor arraigado, é uma condição de preconceito que é muito comum em indivíduos atípicos e seus familiares no dia a dia. O preconceito vem desde situações das mais simples, passando por outras bem desconfortáveis em várias instâncias, com diferentes formas de exclusão. Seja na esfera emocional, física e social, as quais podem ser percebidas em diferentes contextos. Olhares de julgamento, uma matrícula recusada na escola e até mesmo em deixar de ser convidado para uma festinha de aniversário do colega da escola. O preconceito está aí e precisamos combatê-lo. Acolhimento é a palavra chave.

Orientação é a chave

Sabemos que para muitos não é simples voar, aliás, pode até parecer desesperador, mas após a decisão do primeiro salto, estando munido dos equipamentos e profissionais habilitados, há não só a esperança, mas a real possibilidade de desenvolvimento e superação de limites, superação esta que também é perceptível em meu contexto profissional.

Como terapeuta ocupacional especialista em saúde mental, acompanho diariamente famílias que acabaram de receber o diagnóstico de autismo de um filho. E assim como no primeiro salto, os familiares se sentem incapazes, amedrontados e angustiados, justamente por parecer improvável a possibilidade de voar ou no caso dos indivíduos do espectro autista, de se desenvolver. Como se fosse algo tão difícil que não há métodos e soluções possíveis. Mas tanto no paraquedismo como na terapia ocupacional, com os profissionais e ferramentas adequadas, é possível superar todos os limites.

Sala sensorial para acalmar e incluir os participantes do evento.

Acompanhar o desenvolvimento de crianças atípicas é vivenciar uma experiência única. A cada passo das crianças, a cada novo desafio superado, seja encaixando uma peça, retribuindo um sentimento, fazendo novas receitas e tantos outros exemplos que acompanho de perto, posso garantir que é possível superar cada obstáculo que apareça. É possível até mesmo voar!

Atividades sensoriais, como o simulador de saltos, estiveram presentes nas atividades do evento.

Dentre tantas outras atividades, para a manutenção da qualidade de vida de quaisquer indivíduos que precisam ser notados, a visibilidade da prática esportiva como o paraquedismo em um projeto pioneiro como o Salto Azul, chama atenção da sociedade à conscientização do autismo e, consequentemente, traz reflexão sobre a necessidade de defesa e proteção destes seres vulneráveis e passíveis de proteção integral.

Informação e Acolhimento

Apesar de toda a informação circundante nas redes, a sociedade brasileira ainda sabe pouco sobre a condição do autista. Observa-se constantes dúvidas a respeito de como ensinar crianças e adolescentes com autismo na escola, como recebê-los no comércio, no banco, ou até em práticas esportivas como o paraquedismo.

As pesquisas informam que os indivíduos com transtorno de espectro autista estão em toda parte, conforme dados divulgados este ano, nos Estados Unidos, o CDC (Centers for Disease Control and Prevention – Centros de Controle e Prevenção de Doenças), divulgou que uma em cada 36 crianças foi identificada com transtorno do espectro do autismo (TEA). Se considerarmos estas informações, provavelmente todos conhecem e até convivem com um indivíduo com TEA e mesmo diante destas estimativas, infelizmente poucos sabem ou se interessam sobre o assunto.

Paraquedismo & Autismo – o Salto Azul

Inclusive, pode até causar estranheza tratar sobre um esporte radical como o paraquedismo e correlacioná-lo ao autismo. Contudo a interdisciplinaridade que o projeto oferece nos estimula o despertar em diferentes áreas, articulando pontos de cruzamento entre diversas atividades. Além de ser uma forma diferente de abordar o tema, o que atrai ainda mais a atenção das pessoas.

O Lucas de Piracicaba é autista e foi o ganhador do salto salto duplo. Ele nunca tinha andado de avião. Foi um dia de muita emoção para ele na Skydive Cerrado.

Dentre tantas outras atividades para a manutenção da qualidade de vida de qualquer indivíduo, a prática esportiva, sem dúvida, é indicada para desenvolver habilidades, tais como: interação social, comunicação, cumprimento de regras, espírito de equipe e troca de turnos, característica estas que são tão valiosas para autistas.

Entretanto, apesar dos aviões e dos paraquedistas que formam a palavra AUTISMO em queda livre proporcionarem um mundo totalmente inusitado e, aparentemente, fora da realidade de muitos, essas atrações não são o objetivo principal e finalidade do Projeto Salto Azul.

Chamar atenção e promover aceitação

O Salto Azul é um momento para difundir a informação relativa ao transtorno e suas implicações através do esporte, uma excelente oportunidade de promover a aceitação, a difusão da informação e de chamar a atenção do público em geral para as milhares de pessoas que vivem o autismo diariamente, dentre elas os próprios autistas, seus familiares e profissionais envolvidos no tratamento, e na inclusão e INTEGRAÇÃO destes seres.

Esse evento traz luz a uma importante rede de apoio existente e disponível o ano todo, além de oferecer um momento de cuidado também para os familiares que enfrentam grandes desafios.

Além do evento em si, e o trabalho contínuo durante o ano, promovemos inúmeros eventos on-line com entrevistas junto a especialistas da área da saúde, direito, personalidades atípicas, pais e mães atípicos. Sempre fomentando discussões, trocando experiência e compartilhando informações importantes ao público.

Como gostamos de mencionar: enquanto para muitos o céu é o limite, o projeto salto azul já iniciou superando todos os limites, levando o autismo até para o céu, contando com uma rede de apoio de muitos profissionais que trabalham em prol da causa no céu e em solo.

Anápolis, Piracicaba e em Setembro, Boituva

Os eventos do projeto Salto Azul já ocorreram no Estado de Goiás, com 2 edições na Skydive Cerrado em Anápolis e no Estado de São Paulo, com edição em Piracicaba na Azul do Céu Paraquedismo, somando um público presente de mais de 1000 pessoas que abraçaram a causa tornando-se verdadeiras peças que combatem o preconceito “até no céu”.

Equipe da organização do Salto Azul já programou o próximo para Boituva em 23 de setembro

O paraquedismo chama atenção não apenas como modalidade esportiva. O paraquedismo supera limites muito além do esporte e nesse projeto se tornou um verdadeiro instrumento no combate ao preconceito e já está com data marcada para a próxima edição que ocorrerá em Boituva, SP, dia 23 de setembro do corrente ano. Venham participar e contribuir pela causa.

Planejamento e execução

Nosso Pedrosan relata os bastidores para alcançar a performance máxima dos atletas selecionados O paraquedismo brasileiro sem dúvida alguma atingiu um nível superior no cenário mundial das grandes formações, mesmo sem termos alcançado o objetivo maior de voltarmos aos nossos lares como recordistas.A começar com o óbvio: conseguimos reunir nove aeronaves dedicadas integralmente ao nosso […]

Leia a matéria

Meu lugar seguro

Como a programação neurológica, através de exercícios simples, podem maximizar a força interna de atletas ao trazer calma interna e a certeza de que vai dar tudo certo Eu sou um dos muitos atletas que deixou de registrar os saltos realizados ao longo da carreira, infelizmente. Admiro aqueles que seguem registrando cada salto realizado para […]

Leia a matéria

Equipe, evolução e técnica

A tentativa da quebra de recorde em território nacional foi mais uma página escrita pelo CTRno paraquedismo Latino Americano. O CTR (Clube do TR) foi criado por mim e o Fabio Diniz em 1999 e lideramos a instituição até 2012 com o objetivo de desenvolver e promover o FQL nacional por meio de camps com […]

Leia a matéria

Teatro de operações

Skydive 4Fun e Skydive Cerrado em parceria que garantiu o inédito apoio aéreo no Brasil. Em meados do ano passado, o atleta goiano Messias Ribeiro Neto, 65, conhecido paraquedista que salta há mais de 40 anos, abordou a gestão da Skydive 4Fun, para discutir a viabilidade de um lançamento em ala com um grande número […]

Leia a matéria

Marcas que apoiam o paraquedismo

Federações parceiras