Quem acompanhou o início da fase áurea de Boituva, o Centro Nacional de Paraquedismo que operava com o saudoso Cessna 195 de prefixo DQX do Cmte Ulisses, conheceu nosso querido amigo PQD José Fideles que em muito ajudou o nosso esporte a crescer.
Quando, ainda nos anos setenta, fui à área do Centro Nacional de Paraquedismo de Boituva pela primeira vez, fiquei impressionado pelo que vi. Vivíamos tempos de total amadorismo no esporte e o local disponibilizava uma ótima infraestrutura para aquela época.
Havia uma pista de pouso e decolagem toda sinalizada, um belo alvo com seixos e areia, uma plataforma suportando uma grande biruta, barracões, mesas para dobragem de paraquedas reserva, banheiros, poço de água, lixeiras, etc.
Era um local que nos dava um grande conforto em comparação com as outras áreas de salto que frequentávamos.
Saltei e me diverti muito naquele dia juntamente com meus companheiros de clube. E voltando para casa, pensando em tudo o que tinha visto e vivido, nasceu em mim um intenso e eterno sentimento de gratidão por todas aquelas pessoas que por diletantismo tinham construído toda aquela estrutura que permitia a todos saltarem com segurança e relativo conforto.
Formávamos todos uma só grande família e o companheirismo era reinante em todos os lugares. A maioria das áreas de saltos ficava no Estado de São Paulo. Destaques para Americana e Limeira. Mas havia também atividades nas cidades de Boituva, Campinas, Piracicaba, Birigui, Lençóis Paulista e Casa Branca. E foi em Casa Branca que dei meu primeiro salto depois de ter feito o curso na ACM de São Paulo em 1976. Nessa época eu já voava de asa delta e vendo uma reportagem sobre o paraquedismo resolvi experimentar e foi amor eterno!
A cada semana estávamos em um lugar diferente pois nenhuma dessas áreas tinham atividade constante. Éramos um grande grupo e nos ajudávamos mutuamente para poder saltar pois não existiam muitas facilidades como hoje.
Além de poucos pilotos que lançavam paraquedistas como os comandantes Belo, Salvação e Ulisses – os mais famosos – havia menos pessoas ainda que cuidavam da manutenção e reparos de paraquedas. Destaques para Pedro Renato Facco em Campinas e Sergio Rispoli em São Paulo.
Os campeonatos eram sempre uma grande festa. Oportunidades de fazer novos amigos, trocar informações e saltar de graça pois sempre se utilizavam aeronaves militares para o lançamento dos atletas.
Avanços na década de 1980
Os anos oitenta foram divisores de água na nossa história, quando o profissionalismo começou a tomar vulto e mudar muitas coisas. Para isso, na minha opinião, três pessoas foram muito importantes para essa transformação, pelo menos no Estado de São Paulo que sempre liderou o que acontecia de mais moderno no paraquedismo brasileiro.
O primeiro foi o presidente da Federação Paulista na época, Claudio de Lima Augusto que focou sua administração na divulgação das técnicas de Trabalho Relativo (FQL) que ainda engatinhava e que era dominada apenas por poucos paraquedistas.
Com isso vieram os históricos Encontros do Carnaval em Boituva quando paraquedistas de todo o Brasil e do exterior compareciam para saltos e aquisição de novos conhecimentos.
O segundo foi o também presidente da Federação Paulista na época, o famoso JB (João Rodrigues Bessa) que revitalizou as edificações do CNPq construindo novas salas, bar, banheiros, área de dobragem, bancos, quadra de esportes e ainda cuidava da parte jurídica, pois na época corríamos o perigo de perder a área por falta de regularização.
E o terceiro foi o Ricardo Pettená que juntamente com seu irmão Marcos trouxeram dos EUA as mais modernas técnicas que havia na época, principalmente o AFF que revolucionou a formação de alunos deixando-a em um patamar superior.
Importantíssimo também foi a criação do CDTR (Centro de Desenvolvimento de Trabalho Relativo) com sede em Campinas-SP e que possibilitou a propagação das técnicas de salto.
Com isso todos ganharam e o CNPq prosperou e vieram as escolas, lojas e profissionais que deram um novo status à área de Boituva.
Em 1984, durante o Campeonato Pan-americano no México o grande inventor e empresário do paraquedismo Bill Booth apareceu fazendo demonstrações de sua última invenção que era o equipamento Tandem para salto duplo.
Fiquei muito entusiasmado com o que vira e vislumbrei uma grande oportunidade de trabalhar fazendo esse tipo de saltos.
Logo que o equipamento foi disponibilizado para venda em 1985 fui para os Estados Unidos e fiz o curso com o próprio Bill Booth.
Como durante um bom tempo só eu fazia saltos duplos no Brasil, tive a oportunidade de viajar por todo o país saltando em vários estados, colecionando grandes amizades.
Em 1986 fui o primeiro profissional a ir morar em Boituva aonde também dava instruções de Trabalho Relativo (FQL) e Trabalho Relativo de Velame.
Tempos depois, juntamente com meu amigo Terrinha (José Saviolo Jr) fui administrador do CNPq e tivemos muitas atividades nesse período.
Como diretor de promoções da Federação Paulista por dois anos, organizei 14 eventos entre campeonatos, copas, torneios e encontros, os quais proporcionaram a oportunidade de muitos saltos e diversão para nossa comunidade.
Também fui um dos primeiros cameraman juntamente com o Papa (José Martins Lima Papa), Ricardo Rezende e Juarez Tirelli.
Tive uma loja de vendas de acessórios e equipamentos de paraquedismo e no início dos anos 2000 mudei-me para Goiânia aonde vivo até hoje e me afastei um pouco das atividades de saltos.
Em 2007 organizei o primeiro Encontro dos Amigos do Paraquedismo que deu uma grande e emocionante oportunidade de reencontro de pessoas que a muitos anos não se viam. Para organizá-lo criei o site www.amigospqd.com.br que se tornou uma maneira muito legal de me manter em contato com o mundo desse maravilhoso esporte.
O foco do site é o registro das pessoas e fatos que fizeram a história do nosso esporte até o começo dos anos 2000.
São mais de 5 mil fotos, mais de 15 horas de vídeos, mais de 500 reportagens e praticamente todas as publicações que registraram esse período da história do Paraquedismo brasileiro.
Conhecer o passado é muito importante tanto para valorizar como para preservar o que temos hoje.
Sei que fiz algumas coisas em prol do paraquedismo mas tenho absoluta convicção que sempre me sentirei em débito com ele.
Foram décadas de intensa felicidade, muitas emoções, grandes aventuras e inesquecíveis viagens. Mas acima de tudo, uma legião de amigos que esse esporte me proporcionou e que graças a Deus perdura até hoje!
Se eu pudesse resumir em poucas palavras todo o meu sentimento em relação ao Paraquedismo eu diria: Obrigado, obrigado, obrigado!!!
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