Boogie

Noronha a meus pés

Ricardo Contel
Ricardo Contel
09/02/2025 às 21:11

Meu sonho de adolescência sempre foi conhecer e mergulhar em Noronha. Mal sabia que o sonho se concretizaria com a oportunidade de fazer parte da família Fly Factory

Antes de conhecer o mundo do paraquedismo, eu decidi fazer curso de mergulho autônomo quando tinha dezesseis anos de idade. Já namorava com a ideia de seguir carreira acadêmica em oceanologia ou biologia marinha e conhecer o mundo subaquático me trouxe uma perspectiva mais concreta de me aventurar na vida marinha. À época tinha como ídolo, o oceanógrafo e documentarista Jaques Cousteau. Sempre nutri um sonho interno e utópico de acompanhar suas aventuras e mergulhos pelo planeta a bordo do Calypso, sua embarcação adaptada para pesquisa que possuía até um pequeno submarino para descidas desbravadoras no oceano profundo.

Mas minha carreira de mergulhador a bordo do Calypso de Cousteau balançou e logo se desfez depois que, aos 17, mergulhei de cabeça no paraquedismo. Foi amor à primeira vista, mas nunca deixei de refletir como seria mergulhar nos destinos mais incríveis que o meu instrutor de mergulho Marcos Sampaio nos apresentava com slides deslumbrantes: Key West na Florida e Fernando de Noronha no Brasil.

Pois 37 anos mais tarde, meu sonho em conhecer esse maravilhoso arquipélago situado a 350km da costa de Pernambuco, se fez uma deliciosa realidade. Por volta de maio do ano passado, num sábado de rotina realizando duplos em Boituva, recebi uma mensagem de Zap da organização: “E aí? Vamos pra Noronha?”.
Fiquei muito feliz com o convite vindo da Liz, filha do Calota, que é uma das responsáveis pela operação do evento. Naquele momento caiu a ficha: Vou realizar um sonho de adolescente. Conhecer Fernando de Noronha.

Evento crescente e altamente técnico

O Boogie foi lançado em 2022 e desde então só se fortaleceu conforme os clientes saíram satisfeitos, mesmo tendo uma estrutura operacional muito simples, mas sempre com um Caravan lançando a 13mil pés, além da demanda por saltos duplos ir se intensificando na ilha a cada evento.

Na quinta versão, realizada em outubro passado, pude ser testemunha ocular da satisfação incrível dos passageiros com os quais saltei. Pessoas de vários cantos do Brasil que, entre eles, guardaram seus suados ganhos pra poder saltar com o arquipélago a seus pés… E realmente é um visual de tirar o fôlego. A cada salto, um visual distinto por conta da luz do sol, das nuvens, e a vida agitada na costa da ilha.
Nosso pouso fica ao lado de um dos maiores cartões postais, o morro “Dois irmãos”. E nesse ano, a organização acertou em escolher um período do calendário lunar de baixa maré, possibilitando uma área de pouso gigantesca na praia da Cacimba do Padre, o que facilitou em muito o trabalho dos instrutores tandem, garantindo pousos mais tranquilos… Ou nem tanto, mas sempre em segurança.
A posição geográfica da praia, possui uma muralha de pedra vulcânica que cria um paredão ao vento predominante, causando muita instabilidade no pouso. É preciso ter muita calma na hora de pousar, em especial o ponto e intensidade do flare, que vai mudar conforme o rotor criado. Que é sempre uma caixinha de surpresas.

E esse ano não tivemos uma ocorrência sequer ao longo do evento. Tanto em acionamento de reservas ou alguma intercorrência com os pousos, salvo um ou outro atleta que acabou acertando precisamente um guarda sol desavisado na praia. Motivo de risadas e aprendizado.

Staff de peso

Nesse quesito, segurança, a organização tem como prioridade um, dois e até três. Logo na primeira noite do evento, que antecederia o primeiro dia de saltos, fizemos um encontro de staff na pousada onde estávamos hospedados para passar o briefing de segurança junto com os boas-vindas. Muito lúcidas as palavras vindas da organização – leia-se Rodrigo Calota e seus filhos Calotinha e Liz – informando como seria o regramento na chegada ao aeródromo, o check in para embarque quando teríamos de passar todo o nosso material pelo raio X, e a disciplina para seguirmos a pé ao Caravan pelo pátio externo.

Eu confesso que estava muito apreensivo em saltar lá pelo tamanho e condições da área de pouso na praia, mas o papo nessa noite me trouxe mais tranquilidade, além de estar entre grandes nomes do nosso esporte como o Xandão de Aracaju – o instrutor mais antigo do evento –, André Aranha do Cerrado e minha “ídala” Paty Porto. Um time de seletas pessoas para um seleto evento. Ah! Tinha também nesse grupo ninguém menos que Gabriel Lott que, além de fazer duplos com a turma, nas horas vagas é também recordista mundial de Wing Base. Time casca.

Estrutura simples, momentos incríveis

A estrutura montada na praia é incrivelmente simples. Apenas uma grande tenda com estrutura metálica e um “palco” elevado acarpetado de uns 40 m2, para garantir sombra e organização no teatro de operações.
O manifesto ocorria pela liderança sempre muito eficiente e irreverente da Elóide, o que garantia um fluxo contínuo da operação com embarque em veículos do evento para o aeródromo num trajeto de aproximadamente sete minutos. Subida a 13mil pés em uns 15 minutos depois, como num passe de mágica, uma ilha no vazio do oceano a nossos pés.

A satisfação dos atletas – muitos já veteranos do evento – era evidente. Fosse pela magia do local, fosse pela intimidade com a organização que não poupava esforços em atender da melhor forma, mesmo tendo uma estrutura simples, mas funcional, devido às restrições impostas pela ilha no que tange o impacto ambiental. Alguns podem estranhar, à primeira vista, não ter uma ducha de água fresca para lavar a água salgada depois de um dia de mar, mas Noronha é assim em algumas praias como na Cacimba do Padre. Pouca estrutura, farta beleza.

Esse ano, menos Sunsets

Esse ano a organização teve um pouco de má sorte por conta de uma obra na pista do aeródromo que não estava prevista. Isso nos foi informado um dia antes do início do evento, o que refletiu na impossibilidade de se ter aquela última decolagem mágica do sunset durante a semana (no final de semana tínhamos o sunset). O avião precisava tocar o solo antes das 17h00 e o pôr do sol seria quase 1h30 mais tarde. Isso gerou menos decolagens na média dos outros eventos, mas ainda assim a organização bateu recorde em lançamentos e saltos duplos, totalizando 891 e 209 respectivamente.

Meu encontro com os golfinhos

Para o ano que vem, o evento já tem data marcada e acontecerá de 20 a 30 de setembro e certamente trará mais uma novidade ou outra mantendo a tradição de, a cada nova versão, um avanço aqui, outro ali, na rotina e no conforto fornecido pela organização. Quanto a mim, o meu desejo é que eu seja chamado a cada ano (ou a cada evento) pra jogar corpos nos céus de Noronha e, no ano que vem, possa estar com minhas filhas para poder apresentar a elas a vida marinha de Noronha que eu presenciei em horários de folga. E numa dessas aventuras pelo mar da ilha, tive um dos momentos mais sublimes e incríveis da minha vida. Numa manhã que resolvemos fazer mergulho livre na praia do porto, em poucos minutos, nadando próximos a alguns naufrágios, avistamos dezenas – talvez fossem centenas – de golfinhos nadando muito próximos a nós, como se quisessem brincar. Imagens e momentos que marcaram minha alma.
Finalmente conheci um destino que era meu sonho de adolescência e não poderia ser de outra forma: Trabalhando com o que mais amo hoje e contribuindo para o bom andamento do evento da Fly Factory.
Até o próximo!

AGRADECIMENTOS

A parceria da Fly Factory Above Noronha foi consolidada com a Skydive Cerrado desde a 2ª Edição. O CEO da SKC, Durigon, é antes de parceiro comercial,  amigo e família Fly Factory Free Fly. Ele esteve presente em todas as edições desde o início da parceria.
E esse ano, a Pousada do Pedrinho teve papel fundamental na estadia de todo staff, além do transfer dos inscritos da Cacimba para o Aeródromo. O próprio Pedrinho com toda sua prestatividade e irreverência, fez os transfers.

Wingsuit rompendo novas barreiras

O primeiro recorde mundial de Wingsuit em formação vertical foi estabelecido em Perris Valley. Um 38 way com três brazucas dentro. No final de dezembro, entre o Natal e o Reveillon (27 a 29), um novo marco foi estabelecido no mundo do wingsuit com a criação do primeiro recorde de formação vertical, um 38 way […]

Leia a matéria

Recorde Mundial no Arizona

Brasileiros fizeram parte dessa marca histórica num salto com 151 atletas, dois pontos e 28 nacionalidades Em novembro de 2024, os céus do Arizona nos Estados Unidos, foram palco de um feito histórico no paraquedismo mundial. Um marco que reuniu 151 paraquedistas de 28 países diferentes, saltando a partir de sete aeronaves em formação sincronizada […]

Leia a matéria

Recorde Mundial de Head Up 2024

A ideia de reunir alguns dos melhores head up flyers do mundo era audaciosa. O desafio? Quebrar o Recorde Mundial com uma grande formação, próximo de 100 atletas, exigindo precisão e sincronia perfeitas. O palco desse evento foi a Skydive Arizona, uma das áreas de salto mais importantes dos EUA e do mundo. Além de […]

Leia a matéria

Réveillon com Free Flow Camp na DZ47

Por Rodrigo Stulzer O Boogie de Réveillon da DZ47 aconteceu com lançamentos a 14 mil pés a partir de duas aeronaves, o Caravan PS-SKY e o Cessna 195 ZPN. Dezenas de atletas, alunos e passageiros de saltos duplos se divertiram muito no clima de fazenda e praia de uma das drop zones mais charmosas do […]

Leia a matéria

Marcas que apoiam o paraquedismo

Federações parceiras