Como iniciar-se na função de cameraman e algumas nuances desse serviço que capta tantos sorrisos nos céus
por Maurício Prado (Fissura)
O tema não se aplica à risca ao paraquedismo e neste texto vamos entender o porquê. O mergulho no céu é uma experiência única e sabemos disso, mas não é tão simples definir o que é único, neste caso.
Quando expressamos nossas emoções sobre a queda livre é comum dizer que se trata do melhor momento de nossas vidas e isso pode ser o motivo de se tornar único e especial, mas além disso, é único pois na maioria das vezes não teremos a chance de fazê-lo novamente. A maioria dos saltos envolvem pessoas que vão topar essa aventura apenas uma vez em suas vidas, no famoso salto duplo. Portanto, os profissionais que realizam essa nobre missão de dividir o céu com o aventureiro tem apenas uma chance de registrar essa experiência, que ficará guardada para sempre nos vídeos e fotos dessa viagem eterna. Eterna, mas que dura menos de 1 minuto.
Sabemos dos desafios de uma boa captação de imagem, e quando o assunto envolve fazer isso a mais de 200km/h, em queda livre, a coisa fica um pouco mais interessante. Todo o conceito da fotografia continua sendo aplicado, o ISO, a velocidade de disparo, abertura da lente, enfim, nada muda. Estarmos caindo no céu com as câmeras acopladas em nossos capacetes e esses detalhes fazem a mágica ficar complexa. Um grande ponto a ser mencionado é que o profissional não vê na própria câmera aquilo que está filmando e não manuseia o equipamento com as mãos no exato momento da captura.
Depois, temos uma parte muito importante, que deve ser considerada antes de tudo isso. O filmaker precisa ser um bom paraquedista. Para voar e estar no lugar e na hora certa é preciso habilidade de voo livre. Movimentar-se usando a resistência do ar e ao mesmo tempo conduzir as câmeras para o local perfeito onde a imagem deve ser gerada. Quão fascinante é saltar de um avião, cuidar de sua própria vida e ao mesmo tempo proporcionar uma recordação de vídeo e foto para outra pessoa? Isso motiva a maioria dos envolvidos, não resta dúvidas.
Colocar o sorriso no rosto de alguém é muito gratificante e neste trabalho os profissionais podem viver essa experiência maravilhosa. Trata-se de uma atividade em que as brincadeiras começam na preparação, ainda no solo, e continuam na queda livre. A cada vídeo pode-se observar a interação entre cameraman, instrutor e seus passageiros. Dividir a alegria do momento através de gestos em queda livre, expressões e toque fazem dessa aventura uma recordação mais especial ainda. Claro que já deu pra perceber que nós, os profissionais, nos divertimos tanto quanto os passageiros e alunos, afinal, estamos no nosso ambiente natural, onde somos aptos a fazer nosso melhor e sentir a conexão conosco. É uma troca intensa e verdadeira de energia. Portanto, apesar da grande responsabilidade, todo o trabalho é leve e gostoso de fazer.
É uma diversão a cada novo sorriso capturado!
Não podemos deixar de citar neste texto um tópico muito importante: nossos equipamentos. Trabalhamos com action cams, as famosas GO PROs e suas semelhantes. Na maioria dos casos, para trabalhos do dia a dia, essas pequenas gigantes entregam uma qualidade incrível. Hoje em dia, estamos falando de 4K 120 fps, facilmente alcançável nas mais modernas. Essas câmeras são super-resistentes a batidas, temperaturas, chuvas e outras tantas adversidades. Não há muito a se fazer em relação ao cuidado com elas.
Contudo, alguns trabalhos exigem equipamento mais robusto e especializado, seja para vídeo ou foto. Nestes casos utilizamos câmeras maiores, equipamento de fotografia profissional que exige muito cuidado. Além de tudo, não há uma configuração automatizada desses equipamentos. O profissional precisa fazer os ajustes necessários de acordo com a luz, momentos antes de sair do avião.
Os ângulos mudam, as distâncias podem ser diferentes dependendo do tipo de lente utilizada. É um trabalho bastante complexo, muito semelhante ao executado no solo por fotógrafos profissionais. Entender de fotografia é um requisito básico para esse tipo de salto. Além disso, o profissional não pode colocar o equipamento em condições muito adversas, pois isso pode causar graves danos às lentes e à máquina.
Ainda sobre as fotografias com máquinas profissionais, o click para captura da foto é feito pelo paraquedista, não há automação dessa função, até porque o momento exato precisa ser capturado e isso depende da observação do profissional. Mas como fazer isso voando, com as mãos distantes da câmera? Utilizamos um disparador de boca, na maioria dos casos. Os clicks são disparados mordendo ou pressionando o disparador com a língua. É bastante interessante, mas nada muito tecnológico. São apenas fios e conectores.
Pois bem, depois de todo esse tour pela rotina de um profissional responsável pelas imagens dos saltos, dá para ter uma ideia de como essa função é importante para toda a operação. O que fica mais evidente é que tudo se faz necessário afim de eternizar os sorrisos, aqueles momentos únicos divididos no céu. Quem sabe o que a tecnologia nos proporcionará no futuro? Câmeras mais eficientes? Novas formas de captação automáticas? Drones inteligentes capazes de acompanhar um salto? Não se sabe. A única certeza que temos é que pessoas irão sorrir e eternizar a energia daquele salto.