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UP Sizing

Maurício Prado (Fissura)
Maurício Prado (Fissura)
13/11/2023 às 09:46

A formação do paraquedista possui dois aspectos bem distintos: Queda livre e navegação. Neste, o aluno vai evoluindo, na medida que faz o down sizing de seu velame. Mas quando pode ser o momento de inverter essa evolução?

Texto: Mauricio Prado “Fissura”

Nosso colaborador Mauricio “Fissura” Prado após um salto de competição em pouso de alta performance

Quando iniciamos no esporte, depois de fazer nosso AFF de forma intensa e completar o 8º salto nos lançando a baixa altura, estamos formados. Agora é só esperar o batismo com aquele banho de cerveja gelada que até a alma arde de frio. No curso, a progressão é intensa, o emocional fica à flor da pele e cada salto é um novo desafio com mais aprendizados. Isso é na queda livre. Onde o recurso do túnel de vento, para aprimorar o voo individual, auxilia nas etapas do AFF. E, em algumas escolas no Brasil e no mundo, chegam a pular alguns dos sete níveis do curso. Mas será que isso ajuda o aluno? Não vou entrar no mérito da questão da queda livre. Vou aqui dirimir sobre pular etapas, viver acima do limite e também a respeito do que mais gosto de fazer: pilotar meu velame.

Evoluir com calma e segurança

Nosso primeiro contato com o voo do velame se dá com os modelos mais dóceis, chamados de students. São velames de formato mais quadrado (menos retangular) e tamanho generoso, que garante um voo mais conservador e dócil. Esses velames são “forgiven”, ou seja, permitem erros de julgamento por serem lentos e pouco performáticos, proporcionando uma excelente ferramenta para o aprendizado do flare.

À medida que o tempo passa e o número de saltos aumentam, inevitavelmente o paraquedista vai preferir pilotar velames mais rápidos. Em especial por conta de dias com mais ventos, mas também para pousos mais divertidos. Começa então a evolução de velames em tamanhos menores.

E aqui começa um pouco da minha história no skydive: Essa evolução de velames foi fascinante pra mim. Desde aprender os nomes dos modelos, até entender sobre os efeitos do aumento da carga alar e as recomendações dos fabricantes que, se seguidas, garantem uma evolução mais segura nessa progressão.

Disciplina em pilotagem de velames

Eu, particularmente, encontrei na pilotagem de velames uma realização. Minha progressão aconteceu num curto espaço de tempo e muito intensa. Houve muitos episódios onde fui bastante questionado e também recebi orientação sobre o que eu estava fazendo – errado – e as consequências daquilo. Essa rapidez com a qual evoluí no esporte, trouxe ao paraquedismo meu apelido que ganhei anos antes no Jiu-Jitsu: Fissura. Caiu como uma luva.

Devo então reforçar que vale muito a pena ouvir e seguir aquilo que dizem os mais experientes, principalmente instrutores e paraquedistas profissionais, quando alertam sobre os perigos e as possibilidades que não enxergamos em alguns estágios no início do aprendizado da pilotagem de velame.

O entendimento do arco de recuperação do velame, as curvas, manobras, tudo isso é realmente envolvente e existem passos a serem seguidos para que o paraquedista atinja aquilo que deseja para si. Portanto é sim um grande passo voar com mais performance e velocidade, mas vale lembrar que quanto maior a evolução, maior a responsabilidade e compromisso com o risco assumido.

Buscar realizar cursos de pilotagem de velames com instrutores bem recomendados, é um caminho muito bom e seguro. Eu insisto aqui em algo que já manifestei noutras oportunidades: deveria ser obrigatório um curso de pilotagem de velame com instrutor homologado para atividade fim em sua respectiva federação. Enquanto isso seguimos apenas recomendando!

Riscos no limite – A pilotagem de velames exige muita habilidade do piloto que só vem com muito tempo no esporte, disciplina e respeito às regras de segurança. Mas isso não garante proteção contra os riscos eminentes da modalidade

Mais performance, mais riscos

Após a abertura do paraquedas, inicia-se uma fase muito importante do salto E a mais crítica, visto que acidentes no pouso são os mais comuns hoje em dia no mundo do skydive. E eles, quando ocorrem, por vezes envolvem excesso de confiança e má gestão dos riscos.

No início, alguns atletas se sentem desconfortáveis com o voo de seus velames, já que tudo ainda é novidade e as informações chegam numa velocidade que dificulta a rápida absorção. Além da necessidade de criar muita experiência com determinado velame (modelo e tamanho) até evoluir para um menor ou mais performático.

É importante salientar que a evolução acelerada nos estágios iniciais da queda livre (AFF) não é a mesma no voo do velame. Mas geralmente essas progressões são bastante naturais se feitas com boa orientação e cada um no seu tempo, capacidade técnica e objetivos na pilotagem. Sendo um deles o simples fato de fazer um bom flare e pousar em pé.

Quando chega o limite?

Façamos um exercício agora: vamos imaginar que um atleta se encontra em sua máxima performance e atingiu aquilo que sempre buscou como objetivo. Será? Haveria algum momento de dar um passo atrás em relação ao tamanho e modelos do velame? Trago então aqui uma experiência pessoal.

Há alguns anos piloto velames na casa dos 75 pés quadrados. Minha carga alar sempre esteve por volta de 2.6, onde me encontrava numa zona confortável. Recentemente subi significativamente meu peso com meu condicionamento físico, ganhando cerca de 15 kg. Cinco quilos a mais do que usava de peso extra em campeonatos de swoop.

Mas, como bom fissurado que sou (era) por pilotagem e pousos, tudo ficou mais atraente com quase 3.0 de carga alar. O voo ficou mais rápido, as manobras mais precisas, os movimentos corporais menos bruscos para atingir ângulos, mergulhos e fazer giros. Porém, algo muito precioso foi embora: o tempo.

Sucessão de equívocos

Tudo se tornou mais rápido e as tomadas de decisões que já eram imediatas, agora passaram a ser quase urgentes e eu estava amando isso. Contudo, tive uma anormalidade recentemente e, por estar em baixa altitude, e com uma pane que julguei não interferir tanto num pouso seguro – pois já havia pousado com o mesmo problema antes – decidi não desconectar o velame.

Mas além disso, meu reserva era muito pequeno e, e se desconectasse, teria de pousar fora da área em terreno desconhecido. E pra trazer mais um fator de risco pra equação, a carga alar no reserva estava em 2.1, o que é inaceitável.

Minha negligência cobrou um preço alto.

Apesar da confiança em obter êxito no pouso, eu não contava com algumas possibilidades e uma delas aconteceu. Com a pane, eu não tinha acesso ao batoque direito, pois estava enrolado num nó entre o tirante e a ferragem do slider removível. O plano então era pousar puxando a linha de freio diretamente, assim como já havia feito antes. Porém, quando fui executar o flare, meus dedos escorregaram da linha e bati em curva muito forte no chão.

Algumas fraturas nas costas e costela e muitas dores foram um presente, diante do impacto. Mas enfim, o que resta dessa experiência e como ela ajuda a compor o raciocínio a respeito do “up sizing”?

Histórico de extremos que não dei atenção

Antes de chegar lá, gostaria de compartilhar uma experiência de um grande piloto de velames que realizava voos com carga alar acima dos 4.0 para acompanhar wing suits. Por conta do peso elevado, ele vinha usando um reserva pequeno e percebeu que era uma loucura aquilo. Ele portava quase 30 kg de peso para suceder no voo acompanhando o Wing. No relato que li, ele mencionou que jamais faria de novo, antes que algo de ruim ocorresse. Como ter de pousar um reserva inadequado para o seu peso. Com isso os próprios fabricantes passaram a desenvolver containers adaptados para reservas maiores e velames principais bem pequenos. Lembro que li aquilo e achei bem interessante… Mas infelizmente não tomei nenhuma decisão sobre os riscos que eu mesmo passei a correr.

Conscientização – As exceções devem ser os saltos extremos, como os de competição. No dia a dia do paraquedista, utilizar condições próximas das de competição, nos leva a grandes e desnecessários riscos

Diminuir os riscos sempre que possível

Então a questão é: Vale a pena estar no limite a todo tempo? A resposta é óbvia. Não vale a pena! As coisas na maioria das vezes vão acontecer do jeito que planejamos. Mas haverá o dia em que tudo vai se encaixar para que estejamos numa situação indesejada. Seja por negligência, por falta de atenção, por uma condição fisiológica… Acreditem, esse dia vai chegar.

Diminuir a exposição ao risco é o grande ponto. Atuar numa faixa onde o fator de segurança seja maior. Para que fique mais fácil a compreensão caso não esteja, façamos uma reflexão: Uma pessoa pode ir comprar pão todos os dias em sua moto, voando a 160km/h, além do limite permitido da estrada que é 80. Ela voltará pra casa com seu pão quentinho todos os dias, durante 20 anos. Até que um dia ela se depara com algo que poderia ser resolvido facilmente caso estivesse no limite, a 80 km/h, mas será fatal acima disso. Não se trata do quão capaz seja o indivíduo, de quanta experiência ele carrega, trata-se de diminuir a exposição ao risco em sua rotina.

Conclusão

O que se pode concluir é que vale a pena conhecer o limite e eventualmente estar ali, num caso de competição por exemplo, mas não transformar isso em rotina, que acaba virando uma atividade de risco. Deve haver sempre uma margem de segurança que possibilite ao paraquedista encontrar o melhor caminho diante de uma adversidade. Segundos são preciosos.

E aí? Como está sua exposição ao risco? Papo de amigo: confira seu equipamento e deixe o limite para momentos de real necessidade, se é que existe essa necessidade, né?

Bons saltos!

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