Freefly

Três recordes mundiais em um mês mágico

Paulo Pires
Paulo Pires
24/05/2024 às 09:38

Quando tudo se alinha de forma perfeita para que, aquilo que parecia impossível, venha a acontecer

Por Paulo Pires Fly On Team

O início de 2024 já trazia o prenúncio de uma série de coisas incríveis. Muitos eventos, recordes e viagens planejadas na minha agenda. Porém quando o assunto são recordes, tudo pode acontecer. Pro bem e pro mal. No mês de março eu tinha planejado participar de dois recordes nos EUA. O recorde de HU (Head Up) do estado da Florida e o recorde mundial noturno de HD, batizado de Max Pyro, devido ao fato de utilizarmos chuva de prata e LEDs, criando um efeito pirotécnico inigualável. 

Recordes mundiais são difíceis de serem conquistados, é necessário reunir um bom time, clima propício, estrutura de uma boa DZ e, claro, um pouco de sorte. O último na modalidade Freefly foi conquistado em 2021, o mundial de HD sequencial 77 way, onde eu, juntamente com o Vitor Cruz, Rafael “Ganza” e o Davi Costa estivemos presentes representando o Brasil. Tendo em vista tudo isso e após vivenciar essa incrível experencia há três anos, o que vivenciei no mês de março último, provavelmente nunca aconteceu e nunca mais se repetirá.
Existem duas maneiras de encarar um problema, focando no que está dando errado ou buscando uma solução. E nesse quesito os organizadores do recorde de HU da Florida, Brad Hunt e Mallory Hunt, se superaram. Após terem sido surpreendidos com diversos cancelamentos de última hora, uma semana antes do recorde, eles decidiram focar na solução e converter o recorde estadual, um 60 way, em um mundial sequencial em um 32 way com dois pontos. A estratégia dos organizadores foi dividir os 48 atletas que estavam confirmados – número igual ao recorde anterior – em dois grupos. Sendo que um tentaria estabelecer um recorde mundial e o outro tentaria estabelecer um recorde nacional sequencial de HU.

EUA e o resto do mundo
Os grupos foram divididos utilizando o critério de quem era norte americano num grupo e as outras nacionalidades no outro, incluindo o Brasil. E lá estávamos novamente eu, o Davi Costa e o Rafael “Ganza”, todos integrantes do time FlyOn, prontos para representar o nosso país. Após uma explicação sobre como seria a dinâmica dos saltos, iniciamos as tentativas de recorde. O grupo que tentava conquistar o recorde mundial era muito forte e desde o primeiro salto demonstrava que era questão de tempo pra que o recorde viesse. Após quatro tentativas o (não planejado) primeiro recorde mundial aconteceu: um 32 way sequencial que voou por aproximadamente sete segundos, sendo apenas o frame do ponto, necessário para validar o recorde.


Paralelamente, o outro grupo que tentava estabelecer um novo recorde, composto por atletas do mundo todo, buscava a conquista de mais um recorde mundial: o sequencial com três pontos. Após três dias de tentativas e uma meteorologia que sugeria um último dia ruim, os organizadores decidiram encerrar as atividades, o que nos deixou com a sensação de que poderia ter sido melhor, já que estivemos a um grip da conquista do segundo recorde mundial sequencial. E o outro grupo, mesmo tendo feito saltos muito bons, infelizmente não conquistou o recorde nacional. 

Negócios pendentes e mais surpresas.
Meu último salto antes do inicio da pandemia, mais precisamente em março de 2020, foi aquele salto que eu costumava dizer ter sido o salto mais incrível da minha vida. Mesmo não resultando num recorde porque a meteorologia não nos permitiu fazer mais do que um salto noturno durante os cinco dias de tentativas. E desde então, eu sonhava com a realização de um novo mundial noturno Max Pyro, mas aquilo parecia tão surreal e distante que acreditei que nunca mais iria acontecer.
Mas em setembro de 2023 os então organizadores Konstantin Petrijcuk e Matt Fry, agora com a ajuda de outras pessoas envolvidas na organização como Amy Chimmy, Sara e Steve Curtis, decidiram encarar o desafio e anunciaram o Max Pyro 2.0 pra março de 2024, menos de duas semanas após o recorde de HU da Florida. E lá estávamos eu e o Davi Costa, agora sem a presença do nosso irmão Humberto Nogueira, que esteve conosco nas tentativas de 2020, representando o Brasil.


Seleção difícil, jogo “fácil”
De acordo com a organização foi uma seleção difícil. Mais de 100 pessoas pelo mundo manifestaram interesse em fazer parte desse projeto. Porém, devido a alta complexidade desses saltos, o plano era realizar um 40 way com 2 aviões, e muitos desafios pra fazer com que dessa vez, nós tivéssemos um final feliz com a conquista de um recorde mundial. 
Esse tipo de salto, com chuva de prata e LEDs causa um impacto visual muito grande e as pessoas que veem o salto do solo costumam dizer que são ET’s, Aliens, Ovnis e coisas do tipo. Diversos videos circularam nas redes sociais dizendo que o mundo estava sendo invadido, e que meteoritos estavam caindo do céu, entre outros comentários engraçados em posts que pudemos acompanhar em diversas redes sociais. 


Ases do freefly
Com um elenco altamente técnico e experiente, o grupo subiu pro primeiro salto diurno, e pra surpresa de ninguém, a formação foi construída rápida e solidamente e voou por uns dez segundos na primeira tentativa. Tudo certo então! Bora pras tentativas noturnas que é quando o jogo muda de figura. Mesmo tendo realizado os saltos diurnos com toda a parafernália pra nos acostumarmos com os equipamentos, durante a noite a coisa muda bem de figura: menos visibilidade, equipamentos pra serem acionados e não falharem, pouquíssima luz em alguns momentos e muitíssima luz em outros. E a famosa drena do “agora é pra valer”! Mesmo com todos esses desafios, logo no primeiro salto batemos na trave! Apenas uma pessoa fora! Fomos pra segunda tentativa bem confiantes e foi um desastre. Uma pessoa que deveria entrar na base não fez um bom trabalho, a base quebrou e nada aconteceu. Fomos então liberados pra ir descansar com um horário marcado pra nos encontrarmos no dia seguinte.

Segundo dia, dia de recorde
Segundo dia, segundo salto diurno, segunda vez que a formação fecha e voa. Easy job no céu azul e um elenco muito talentoso. Então bora pra mais uma tentativa noturna, e mais uma vez um quase! Uma pequena confusão num dos setores da formação entre o segundo e quarto stinger e por muito pouco não estabelecemos o recorde novamente. Subimos logo depois para quarto salto noturno, o segundo do dia, e o tão sonhado recorde mundial noturno Max Pyro aconteceu.
Foi possível sentir a energia da conquista do recorde na queda livre. Todos pousaram comemorando.

Segundo recorde mundial, agora sequencial
E já que estou falando em surpresas, e que tudo isso foi uma grande e agradável surpresa, então por que não incluir mais um recorde na conta?
Por termos quebrado o recorde já no segundo dia, nós ainda tínhamos um último dia de saltos e algumas chuvas de prata pra queimar (risos). Os juízes esclareceram então que, se dois grupos com a mesma quantidade de pessoas estabelecessem o mesmo recorde dentro das mesmas 24h, ambos poderiam ser validados. Assim, os organizadores dividiram o grupo em outros dois e lá fomos nós em busca de mais uma conquista, o recorde mundial sequencial Max Pyro.

Os novos grupos, ao se organizarem, traçaram estratégias diferentes. Foi aí que eu e o Davi Costa, infelizmente, caímos em grupos diferentes. O grupo do Davi traçou uma estratégia audaciosa que onde metade da base seria formada após a saída do avião. E um pequeno detalhe na altura desse salto: não conseguimos chegar aos 16mil pés (altura que estávamos saltando), devido a uma camada de nuvens. Assim conseguimos subir apenas até 12.500 pés.
Dessa forma, a falta de tempo devido a estratégia escolhida, impediu um dos grupos de conquistar o segundo recorde mundial, um 21 way sequencial de dois pontos que nosso grupo conquistou com a estratégia de sair com toda a base gripada e comemoramos muito logo após o pouso.

Novo recorde com um desafio pessoal
Esse salto foi especial pra mim que estive na base desses recordes desde o início. Porém, nesse salto os organizadores decidiram me dar a responsabilidade de liderar a base. Ou seja: a contagem, a caminhada até a porta e o alinhamento da base eram minhas responsabilidades. Nada que eu já não tenha feito inúmeras vezes aqui em nossos recordes, mas agora estávamos falando de um recorde mundial sequencial noturno e qualquer erro poderia nos custar a conquista do recorde.
Missão dada, missão cumprida. Base perfeita, recorde conquistado, bora celebrar e dar risada dos posts nas redes sociais.

A jornada continuará


Por que tudo isso foi tão surpreendente e especial? Organizadores não marcam recordes mundiais com datas tão próximas, intervalo de menos de 2 semanas pra ser mais exato, e como mencionado acima, isso não foi planejado, foi improvisado, e muito bem executado. No final das contas, foram três recordes mundiais conquistados em um curto e inédito intervalo de tempo. E tive o privilégio de participar dos três! Isso nunca havia acontecido antes e dificilmente se repetirá. 


Encerro essa jornada com a sensação de dever cumprido e um prazer inenarrável de ter repetido o até então salto mais incrível da minha vida por mais algumas vezes. Só que agora com a conquista de mais dois recordes mundiais. 


Dedico tudo isso ao meu irmão que esse esporte me deu, Humberto Siqueira Nogueira. Sei que você esteve conosco em todos esses momentos e peço que continue nos acompanhando em toda essa jornada, que ainda não terminou. Ainda há outros sonhos a serem realizados, como planejamos juntos e farei o meu melhor pra que todos se tornem realidade.
Aí poderei descansar e contemplar essa jornada que forjamos juntos. Sinto muito sua falta, meu brother.

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