História

A fundação do nosso GRANDE CENTRO, uma breve história do CNP

Ricardo Contel
Ricardo Contel
07/04/2024 às 20:30

Como uma ideia, a sincronicidade do momento, e a ação da generosidade e dedicação humana, materializaram o maior centro de paraquedismo do nosso país

Tudo o que fazemos na vida, por menor que seja o resultado, o projeto, o sonho, nasce de uma semente. De uma ideia, de um pensamento ou de um desejo que nos move. E a semente que trouxe para o paraquedismo brasileiro, seu maior centro de prática e, talvez, o maior centro do mundo, foi a banda da cidade de Boituva no início da década de 70. Meses depois do Brasil se tornar tricampeão do mundo no futebol, consagrando Edson Arantes do Nascimento como Rei Pelé.

Castello Branco e a banda

Em 1967, a empreiteira SOBRENCO, encarregada de ampliar um trecho da Rodovia Castello Branco, pediu autorização a um proprietário rural boituvense para construir um campo de pouso de aeronaves para receber técnicos e engenheiros durante a execução da obra rodoviária. A obra foi finalizada e a pista ficou.
Em 1969, essa propriedade rural, junto com outras adjacentes, foi então adquirida pelo fazendeiro Alfredo Sartorelli que, na nova escritura registrada no Tabelião de Notas de Porto Feliz, a definiu como “Sítio Campo de Aviação”. E já no ano seguinte surge a semente do Centro Nacional de Paraquedismo (CNP), através da banda local.
No centro da cidade, na casa de um boituvense entusiasta, ocorriam os ensaios da Corporação Musical Sagrado Coração de Jesus, um grupo fundado por Rodrigo Holtz.
Newton Raul Faria de Almeida, amante de bandas e fanfarras, além de uma pessoa altamente carismática e solidária, costumeiramente assistia aos ensaios e soube das dificuldades que passavam. E por amor, resolveu ajudar a banda. Contatou então o seu irmão, Décio Faria de Almeida, que à época era o Presidente da União Brasileira de Paraquedismo, a UBP. Newton sugeriu a ideia de realizar uma demonstração de saltos na cidade e promover uma arrecadação de fundos com doação popular para a Corporação Musical.
A ideia tomou forma e houve grande mobilização de pessoas para que a estrutura temporária fosse montada e a realização dos saltos ocorressem. Assim, foi criado um pequeno alvo com pó de serragem para auxiliar no amortecimento dos pousos. À época os atletas de ponta utilizavam modernos paraquedas redondos. O retangular ainda sequer havia chegado ao Brasil.
Para evitar colisões indesejadas no pouso, os grandes cupinzeiros ao redor da área de pouso (ainda vistos pelas propriedades rurais próximas ao CNP) foram pintados com cal para que os paraquedistas pudessem visualizá-los do alto. E por fim, quatro pneus distribuídos nas extremidades do terreno para indicar a direção do vento ao serem queimados.
O jornal local Folha de Boituva, encarregou-se de anunciar o evento na cidade e a população que compareceu comprou flores de pano confeccionadas por voluntários e doadas para angariar fundos. Um grande mutirão popular em prol da banda da cidade.
Naquele tempo, demonstrações aéreas não podiam ser comercializadas e um Cessna 175 de prefixo PT-BBR vindo de Americana, lançou os três primeiros atletas em Boituva.
Deu-se início, após esse salto, de um processo intenso e bem-sucedido da criação do Centro Nacional de Paraquedismo.

O Paraquedismo chega em Boituva

Com apenas uma decolagem partindo do Sitio Campo de Aviação, subiram no Cessna 175 os atletas Atílio Salti, Gabriel “Bié” James e Ademir Benedito Pereira. Todos eles pousaram no alvo, mas coube a Ademir realizar a mosca, tocando o calcanhar em um pedaço circular de papelão com 10cm de diâmetro.
A população que acompanhou ordeiramente o acontecimento, ficou maravilhada pois uma demonstração como essa era nível de “Festividade Presidencial”, com a participação da Corporação Musical Sagrado Coração de Jesus. Ao longo do dia a banda executou marchas e dobrados, coroando o evento com sua participação, que ajudou a levantar a quantia de CR$200,00 (Duzentos cruzeiros) depositados na conta da Caixa Econômica Estadual do grupo musical. O evento gerou grande encantamento dos cidadãos boituvenses com o paraquedismo e seus praticantes.

UBP para CBPq

A União Brasileira de Paraquedismo existente à época e presidida por Décio Faria de Almeida, era subordinada ao Ministério da Cultura, Esportes e Turismo. O que não mais seria necessário, até que a mesma se tornasse uma Confederação e fosse emancipada. E para isso, muitos paraquedistas de ponta e ativos no desenvolvimento do esporte, já se esforçavam em criar Federações em estados onde a prática do esporte tinha alguma força com adeptos apaixonados.
Nesse aspecto vale salientar a dedicação de um grupo engajado de atletas entre eles os paulistas João Augusto Mac Dowel (engenheiro do ITA), Miguel Pacheco Chaves (atleta muito atuante e empreendedor), Carlos Tender Guimarães e Décio Faria, além dos cariocas Nelson Palma e Francisco Clayton Lemos do Rego que foram responsáveis em fundar a Federação Brasileira de Paraquedismo em 1962 para, no ano seguinte, criar a UBP (União Brasileira de Paraquedismo). Esses tiveram uma grande parcela de contribuição no sentido de promover a prática pelos estados próximos a São Paulo e, já em 1976, juntamente com Rio de Janeiro e Paraná, essas três Federações constituídas criariam a atual CBPq. Que logo depois teve a adesão das Federações de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio Grande do Sul.
Essas seis Federações foram as fundadoras da atual Confederação Brasileira de Paraquedismo.

O conflito com aeródromos

Voltando àqueles tempos, nos idos de 1960, o maior desafio para a prática do paraquedismo (que ocorre até hoje), vinha de sua operação de saltos conflitando com as atividades aéreas corriqueiras de aeródromos e seu tráfego aéreo.
Qualquer aeródromo movimentado não enxergava com bons olhos a prática dos saltos, cabendo aos paraquedistas buscarem aeródromos desativados ou de baixíssima operação e assim iniciarem suas operações com características bem peculiares.
Mas, na medida que o aeródromo escolhido para as atividades de saltos se agitava com o paraquedismo e o pico voltava a ter evidência chamando público, os pilotos passavam a operar no local com voos panorâmicos, criando um complicado círculo vicioso. Era necessário, na visão de Décio, então presidente da UBP, criar um Centro Nacional exclusivo para a prática do esporte.

Limeira ou Boituva?

Na época já existiam tratativas na Prefeitura de Limeira para apresentar na Câmara Municipal um projeto de cessão de uma área para fins de atividades do paraquedismo com pista própria e exclusiva. Sabendo-se da pista em Boituva que já estava inativa, por conta do término das obras na Castello, aliado às ótimas condições climáticas da região e da hospitalidade do povo boituvense, os holofotes dos paraquedistas desejosos em terem uma sede própria e exclusiva, voltaram-se com força para a pequena Cidade. Começava então uma corrida contra o tempo para que o Centro fosse estabelecido em Boituva e não em Limeira.
Assim, Newton Faria, morador da cidade, junto com seu irmão Décio, avançaram nas tratativas com Alfredo Sartorelli e sua esposa Luiza Rosa Sartorelli, os proprietários rurais do Sitio Campo de Aviação, para conseguirem a cessão de uso de um pedaço de terra que seria hoje a pista com 950 metros de comprimento e 30 de largura. Somada a essa pista e próximo à sua metade, mais uma área adjacente que daria espaço a um alvo circular. E por fim uma segunda área retangular na cabeceira norte, próxima à Castello. Nesse local seriam construídas estruturas básicas para receber público e atletas. E no futuro, o plantio de árvores para dar sombra aos paraquedistas frequentadores e seus familiares, que até hoje estão por lá.
Já havia na cidade uma profunda admiração pelos paraquedistas, depois da realização da demonstração no ano anterior. Não teria sido uma decisão simples de um fazendeiro ceder tanta terra para um grupo de praticantes de um esporte tão embrionário no Brasil, não fosse sua beleza e energia. Mas, reza a lenda, quando Newton e Décio estavam de saída da casa do fazendeiro após apresentarem a solicitação do uso de partes de sua propriedade, sem alimentar muitas esperanças, a esposa do fazendeiro que os acompanhou até o portão, disse ao pé do ouvido de Décio: “Filho, marido e mulher pensam com a mesma cabeça no travesseiro. Vai dar tudo certo”.

Nasce o CNP

Primeiro salto em Boituva. Da esq. Pra dir.: Décio Faria de Almeida (Presidente da UBP), Gabriel “Bié” James (PQD),
Tancredo Primo, José Eurico Ferrielo (Prefeito de Boituva), Atílio Salti (PQD), Rogerio Gomes “Lelo”,
Ademir Benedito (PQD) e Roberto Faria de Almeida. Foto de 1970

A área cedida por doação (ou comodato, a controvérsias nesse tema) era de aproximadamente 60 mil m2 e um fator que ajudou na decisão de ceder as terras foi que, por conta da forte compactação do solo para viabilizar uma pista de pouso, ele ficou inapto para a agricultura.
Após inúmeros desafios e contratempos para conseguir regularizar a doação das terras à UBP, mas agora com o fato consumado, o Lions Clube de Boituva reconhece os esforços da cidade em ganhar o título de Centro Nacional de Paraquedismo, desbancando Limeira que à época possuía 77 mil habitantes, contra Boituva, com pouco mais de 6 mil.
O Centro Nacional de Paraquedismo então é fundado em 13 de outubro de 1971.
Com a batalha escriturária ganha, agora começava uma corrida contra o relógio para montar a estrutura do CNP e receber, no ano seguinte, a oitava edição do Campeonato Brasileiro de Paraquedismo, a maior confraternização do nosso esporte à época.
Terraplenagem, recuperação e levantamento de cercas, abertura de poço artesiano para suprir água potável aos frequentadores, construção do alvo em padrão internacional, estruturas sanitárias para atletas e público em geral, além de um estudo para instalar luz elétrica e telefone, seria o “básico” para poucos meses de prazo e nenhum recurso.
Mas a dedicação e euforia era tamanha que não havia a possibilidade de não conseguir erguer toda essa estrutura necessária e sediar o primeiro evento oficial no ano seguinte. Encabeçados por Newton Faria que havia sido cedido à UBP através de uma licença de suas funções como funcionário público da Secretaria de Estado da Segurança Pública, ele capitaneou e conduziu todos os trabalhos até a implantação final da estrutura. Uma missão hercúlea e quase impossível que Newton descreveu o momento com a seguinte frase: “Em nosso dicionário não existe a palavra insucesso”.

O grande agente realizador de sonhos

Pouso no alvo de Boituva com um redondo hipersustentados, um dos equipamentos
mais modernos à época com recursos de navegabilidade que permitia maiores
chances de “mosca” aos competidores.

Newton que havia se mudado há pouco para Boituva, com seu carisma e uma excelente desenvoltura social na cidade, dedicou-se com afinco a passar de porta em porta pelo comércio e fazendas da cidade, solicitando auxilio e doações. De qualquer natureza que fosse. Recursos financeiros, mão de obra braçal, cessão de máquinas e veículos de particulares ou da própria prefeitura que, através de seu prefeito José Eurico Ferriello, não poupou esforços em ajudar o projeto de construção do CNP.
E foi através da prefeitura que veio o alvo de alto padrão que existe até hoje. Foram 650 metros cúbicos de seixo (pedra com formato arredondado, sem pontas) – mais de 40 caminhões – para o entorno do alvo central, e outros 150 metros de areia para finalizar o raio central de 15 metros do alvo. Tudo isso com 40cm de profundidade.
E ao redor, a partir de 75 m do centro do alvo, segundo recorda-se Antônio Raposo, “uma grama lisa criada com podas frequentes do mato, até que ficasse só a grama. Exatamente como aconteceu na Azul do Vento, em Campinas.” – E Raposo completa: “Isso aprendi com Roberto Pettená.” – saudoso pai dos nossos Marcos e Ricardo Pettená – “É por isso que a grama no CNP é tão forte e resistente.”
O Campeonato estava próximo e além das equipes brasileiras, estariam presentes também equipes da Argentina e dos EUA. Boituva já começava grande!
Nas palavras de Newton, “Faltava balizamento na pista, faltava biruta, faltava tudo. Menos coragem para enfrentar a situação que já estávamos acostumados desde outras jornadas”. “Havíamos começado algo muito maior do que nossas forças nos permitiam e, por essa razão, envolvemos nossos amigos, colaboradores de várias áreas, auxiliando com seus conhecimentos. E muitos que nos ajudaram, o fizeram acreditando no sonho que estávamos materializando”.
Newton conseguiu inclusive, com apoio do Governo Estadual, através da indicação de um compadre, o Dr. Accacio Cardoso de Carvalho Junior, uma equipe do D.E.R. com sede em Itapetininga, SP, para construir um pequeno trevo de acesso ao local. A lateral da Rodovia Castello Branco, próxima ao CNP e na entrada da cidade, por alguns meses, virou um gigantesco canteiro de obra rodoviária.
O que se conseguiu com a articulação de Newton e seus contatos e amigos, em prol do paraquedismo em Boituva, no curto espaço de tempo para a realização do Campeonato Brasileiro, foi algo surpreendente. Fantástico. Magnânimo. E assim o CNP, como dito anteriormente, já nascia grande!
A solidariedade e o objetivo comum de Boituva em se tornar a capital nacional do paraquedismo, não foi um acidente de percurso, mas sim a dedicação e paixão de pessoas que, mesmo não sendo paraquedistas, deixaram o seu legado por lá.

O Clube de Paraquedismo, a força motriz da DZ

Ao fundo com capacete branco à mão, João Augusto Mac Dowel
e à sua direita vindo em direção ao fotógrafo, Miguel Pacheco Chaves.
Esses dois atletas foram essenciais ao desenvolvimento do esporte na década de 1960.

Com a estrutura sendo montada de forma espetaculosa, num mutirão nunca antes visto no município, teria de ser criado um clube para que a operação de paraquedismo pudesse ser praticada continuamente pois, como rezava nos termos de doação da terra, por lá deveria haver atividades contínuas de saltos. Caso contrário, as terras voltariam para a posse e uso de seu proprietário de origem.
Em novembro de 1971, mais precisamente no dia 21, Newton convida um respeitado monitor, Aldamiro Dondon Filho, o Miro, juntamente com Vera Lúcia Alcântara Goulart do Clube de paraquedismo de Campinas, para participarem de uma reunião com várias outras pessoas de renome na cidade de Boituva e interessadas no desenvolvimento do Centro. Estava presente nesse dia o próprio Alfredo Sartorelli. O grupo seria a semente de criação do Clube de Paraquedismo de Boituva e assim viabilizar tecnicamente as operações no CNP.
Ricardo Pettená, então aluno de Miro e recém ingresso no esporte com 13 anos, recorda-se de seu primeiro salto em Boituva e quinto da carreira: “Nós já sabíamos que Boituva seria o Centro Nacional de Paraquedismo. Não havia ainda nenhuma estrutura além da pista e do alvo de areia e seixos rolados, o mesmo que permanece até os dias de hoje”, relembra.
Antônio Raposo destaca a solidariedade da época entre os clubes: “Começamos a saltar em Boituva com o CPC (Clube de Paraquedismo de Campinas) presidido pelo Tio Bob (apelido carinhoso dado a Roberto Pettená), e emprestávamos nossos equipamentos pro pessoal de lá”. Raposo nos compartilhou um caso curioso: “Teve um dia que o Tarcísio pegou um T-10 que estava com eles, pôs nas costas e saltou. Teve um charuto esquisito, um monte de pano embandeirado e comandou o reserva. Fomos ver, e o T-10 estava recuperado, com as linhas em corrente travada no velame…” – e conclui com espanto – , “…mas fechado certinho, “pronto para salto”, com cordão de rotura e fita estática devidamente colocada. Acredita?”.

Dobradinha de sucesso: Newton Faria que assumiria a liderança
nas obras e estruturação do CNP após a aquisição do terreno,
no final de 1971, junto com seu irmão Décio, presidente da UBP.

Nosso esporte tem muitas histórias para serem contadas. Naqueles tempos, saltar sem DAA e com equipamentos redondos para lançamento de tropa do Exército, era o que tinha disponível para as escolas, os clubes. Skydive raiz no osso!
Voltando à formação do clube local, Newton relata que: “Tudo precisava ser feito do zero. Papelada, compra de material, angariar doadores mensais para sua manutenção e nada tínhamos a oferecer… além de sonhos”.
E uma merecida homenagem da UBP valorizando o fato mais importante para a fundação do CNP, Newton recorda com muita gratidão: “Antes da realização do VIII Campeonato Brasileiro de Paraquedismo, a UBP outorgou títulos de beneméritos da entidade ao casal Alfredo Sartorelli e Luiza Rosa Sartorelli. Isso ocorreu em seção pública solene realizada no início de 1972 em nome de todo o paraquedismo brasileiro”. E complementa: “Tal outorga foi conferida em reconhecimento sobretudo à clarividência do casal, que não poupou esforços na corrida contra o tempo para assegurar à Boituva, a instalação do Centro Nacional. Que não só traria afluxo de pessoas para a cidade, mas também a tornaria internacionalmente reconhecida”

Alfredo Sartorelli e sua esposa Luiza Rosa Sartorelli receberam título benemérito
da UBP em 1972, dedicado a generosidade do casal por ter cedido as terra
para o paraquedismo brasileiro.

Boituva ganha projeção

Com as novas instalações e obras de estrutura realizadas, a inauguração oficial do CNP ocorreria no Campeonato Brasileiro em julho de 1972. Mesmo com as atividades de saltos já ocorrerem aos finais de semana com a presença de clubes e escolas operando ocasionalmente em Boituva.
“Íamos aleatoriamente em várias áreas pelo estado de São Paulo. Combinávamos com outras escolas e clubes e acionávamos o avião para o CNP.” – lembra Raposo – “E lá fazíamos a operação no final de semana e depois voltávamos com todo material. Não havia estrutura para manter uma escola fixa por lá nessa época”.
Assim, iniciava-se uma nova fase na história da cidade sede do paraquedismo brasileiro, tendo a atividade contínua dos saltos aos finais de semana com diversos clubes e escolas. E os consequentes sobrevoos das aeronaves lançadoras. Novidades para a população local e curiosos que passavam pela rodovia Castello Branco.
O agito era tamanho dessa novidade que em algumas ocasiões, chegou a dar uma leve dor de cabeça à policia rodoviária por conta do acúmulo de veículos no acostamento. Dias depois surge um estacionamento improvisado nas proximidades do CNP graças, mais uma vez, à generosidade do casal Sartorelli.
Boituva ganha notoriedade regional e o comércio local passa a crescer. Proporcionalmente à procura de informações pela cidade, resultando no interesse do paulistano em chácaras para o veraneio no interior, próximo ao agito dos saltos e aeronaves. Hoje, lá do alto, a cada salto em Boituva, podemos testemunhar o boom imobiliário impulsionado pelo paraquedismo dessa época, na busca dos habitantes dos grandes centros urbanos como São Paulo, por repouso e lazer aos finais de semana.

As primeiras operações contínuas

Foto de 21 de dezembro de 1971 quando da primeira turma de paraquedistas formada pelo saudoso instrutor Adamiro Dondon Filho, o Miro, que está na ponta direita da foto. Já na ponta esquerda, o primeiro paraquedista da cidade de Boituva, Antonio Carlos Nogueira. O avião de prefixo PT-AFU, era do nosso comandante Belo, o cmte pioneiro que passou a lançar todos os finais de semana no CNP, decolando de sua cidade natal, Piracicaba.

Como citado, mesmo antes da inauguração oficial do CNP, inúmeras atividades de clubes e escolas já ocorriam por lá. Inclusive Copas organizadas pela Federação Paulista. Assim, o local já criava relevância no Estado, mas também fora dele.
Foi Avelino Alves de Camargo, nosso saudoso Cmte Belo, quem auxiliou com mais assiduidade as atividades nos primórdios do CNP. Pilotando seu Cessna 170 de prefixo PT- AFU, Belo, juntamente com outros proprietários de aeronaves que serviam ao paraquedismo, eram solicitados pelas escolas ou clube de atletas em várias áreas pelo estado. Destaques para Piracicaba, Mogi-Mirim, Rio Claro, Limeira, Americana, Campinas, Araraquara e Jaboticabal.
Com o CNP estruturado e tendo sua pista exclusivamente destinada ao paraquedismo, o local virou a vedete dos praticantes, na medida que os clubes e escolas do estado passaram a dar prioridade na realização de suas operações por lá. E conforme a demanda aumentava, o Cmte Belo então passou a decolar todo final de semana de Piracicaba, onde residia, para atender os frequentadores do CNP. Agora sem cobrar traslado. Com isso o CNP passa a ter uma aeronave dedicada exclusivamente ao centro em seu início, atendendo aos principais clubes frequentadores desse início. Destaques para os Clubes de Paraquedismo de Piracicaba, Rio Claro, Limeira, Campinas, Jaboticabal e os Canibais de Americana.

Skydive raiz

No início dos anos de 1970 saltava-se apenas com paraquedas redondos. E a distribuição dos velames cabia a 2 equipamentos – como se dizia à época, que seria hoje o atual harness-container – tendo o principal nas costas, e o reserva conectado à frente do paraquedista, com dois mosquetões na altura do peito. Eram os reservas ventrais. Não à toa, o alvo de Boituva era o maior diferencial da área de saltos. Não se usava o termo pouso quando o paraquedista retornava ao solo com seu paraquedas. O termo era aterragem e havia uma técnica treinada à exaustão nos cursos de formação ministrados pelos clubes naqueles tempos. Mas isso não garantia por completo a integridade física dos iniciados. Não era raro a torção ou mesmo fratura de tornozelos e pernas quando os paraquedistas atingiam o solo. E a forma com que o alvo de Boituva fora concebido, em padrão mundial para competições de precisão, minimizava em muito os riscos de lesões dos praticantes.
Em especial os alunos que utilizavam equipamentos como T-7, T-10 e T-U, os mais simples e utilizados em larga escala nas escolas. Todos cedidos do meio militar para lançamentos de suas tropas. Naquela época, nos idos de 1960, nossa referência em termos de equipamentos para salto, era o meio militar.
A navegabilidade deles era quase nula, então cabia ao mestre de saltos ou do instrutor, realizar um perfeito lançamento dos alunos, a partir de 2500 pés. Para isso utilizavam do recurso de um sonda preparado com uma haste de ferro fina de construção de aproximadamente 30 cm, enrolada em rolos de papel crepom colados com várias cores chamativas como amarelo, vermelho, branco, somando oito metros de extensão. O sonda era lançado no primeiro terço da subida (aproximadamente 1000 pés) e a partir do ponto onde o sonda caía, o lançador caprichava na reta para que o aluno aterrasse, com maiores chances de segurança, no alvo. Solo duro era convite para um singelo incidente. Por isso a recomendação para se saltar de calçados com cano alto, ou mesmo botas no estilo coturno, era prática comum na época.
Já os atletas avançados, logo adquiriam seus próprios equipamentos. Os mais populares eram os Papillons franceses ou os PCs norte americanos, os Para-Commander. Esses velames redondos eram modelos hiper-sustentados pelo fato de terem uma linha central ligada ao ápice que, quando puxado para baixo, fendas específicas no velame passavam a escoar ar para trás e para baixo de modo a aumentar momentaneamente a sustentação, permitindo ao atleta algum recurso a mais na navegação e no pouso.

O grande barato de 1960

A partir de um PS (Ponto de Saída ou lançamento) minuciosamente calculado para lançamento no eixo do vento, maior a probabilidade de chegar no alvo. Este comumente possuía uns 50m de diâmetro e, não raro, o atleta experiente e habilidoso, tocava inclusive uma “mosca” de 10cm de diâmetro. Naquela época, nos idos de 1960, esse era o grande barato do paraquedismo: atingir a mosca no alvo, mostrando suas habilidades no esporte. Esses saltos eram realizados até 3.500 pés.
E a outra modalidade, ambas vindas da prática esportiva militar, era o estilo. Que consistia em fazer uma saída solo, agora a uma altura comum de 7.000 pés, e realizar seis manobras com a melhor precisão e rapidez possíveis: Curvas de 360º pra cada lado, um back loop, e repetir a mesma sequência. Para avaliar a performance em competições, era usada uma luneta pelos juízes. Naquele tempo não havia registro em imagens. Ou seja, o juiz acompanhava a saída do atleta da aeronave com uma mão na luneta e a outra segurando um cronômetro pra acionar no momento que o competidor iniciasse a primeira manobra após ganhar velocidade na queda.
A posição de queda dessa modalidade era chamada de PI, posição inicial, que consistia no paraquedista frente ao solo, em formato de “conchinha” mantendo a superfície das canelas e o peito em contato com o ar, mais os seus braços, com os quais executava os movimentos.

Próximo capítulo

O Campeonato Brasileiro inaugural do CNP e o começo da evolução do trabalho relativo (hoje FQL) teve Boituva como grande catalisador do desenvolvimento técnico do nosso paraquedismo. A queda livre tornar-se-ia popular no meio civil, junto com o advento dos equipamentos “piggyback” desenvolvidos para acomodar os dois velames nas costas. Isso traria uma grande revolução aerodinâmica para o voo do corpo em queda livre, além do conforto dentro da aeronave.
E para isso, traremos um novo capítulo na próxima edição resgatando a contribuição que teve o Centro Nacional de Paraquedismo para o nosso esporte, seguindo a visão de um de seus frequentadores, Ricardo Pettená: “A história da evolução do nosso esporte, sempre esteve presente em Boituva”.

O embrião do CNP

No final da década de 1950, começo da de 60, iniciava no mundo todo um importante desenvolvimento do paraquedismo civil, 15 anos após o término da Segunda Grande Guerra. Por isso, o ponto de partida, usando da experiência, técnica e equipamentos foi 100% do meio militar. Os militares foram fundamentais nesse começo, e veio do meio civil a prática lúdica e o avanço técnico-organizacional do nosso esporte. Especialmente a formação e aprimoramento dos atletas.
Saltar por diversão. Superação pessoal. Pelo simples fato de saltar!
Nesse aspecto, os atletas Miguel Pacheco Chaves e João Augusto MacDowell, professor do ITA (Instituto de Tecnologia Aeroespacial), tiveram grande relevância na fundação do que viria a ser o nosso Centro Nacional de Paraquedismo. Eles foram grandes pioneiros do paraquedismo civil brasileiro e também os precursores da ideia de termos um centro exclusivo e dedicado ao esporte. E isso veio dos franceses, segundo nos conta Miguel, que foram os grandes pioneiros do paraquedismo civil nos seus primórdios. Especialmente pelo apoio governamental e uma campanha nacional em busca de símbolos nacionais.
No início da década de 1960 são desenvolvidos centros dedicados ao paraquedismo civil na França. Além de alguma literatura especializada na formação do paraquedista, junto a uma estrutura física e organizacional dedicada exclusivamente ao desenvolvimento da atividade de saltos no meio civil. E para isso os franceses tinham duas grandes vantagens: o espírito altruísta e coletivo dos atletas civis e o apoio do Estado para financiar esses centros.
Em 1966 Miguel decide participar individual-mente do Campeonato Mundial de Leipzig, situada na Alemanha Oriental e depois de competir, sabendo do avanço francês no cenário mundial, já tinha planos: “Terminando a competição, fui para Lille na França conhecer o Centro-Escola Regional do Norte de Paraquedismo, que era dirigido por Michel Prik”, relembra Miguel. “Ele havia criado uma escola revolucionária e tudo o que eu pensava naquele momento era de copiar o modelo para o nosso país”.
Durante sua permanência em Lille, Miguel realizou muitos saltos de Trabalho Relativo que começava a virar a grande coqueluche do paraquedismo civil. O voo do corpo, a formação de figuras no ar. Esse era o futuro do esporte. E durante sua estadia em Lille, Miguel ficou maravilhado com o senso coletivo e a organização dos franceses. “Constatei como um ambiente de paraquedismo bem estruturado e gerido, pode ter relevância e assim desenvolver a prática esportiva”.
Ao voltar para o Brasil, por ser piloto e ter seu avião próprio, intensificou voos pelo interior paulista em busca de opções para se construir um grande centro brasileiro nos moldes dos franceses.
Num desses sobrevoos, Miguel avistou a pista da SOBRENCO, ladeando a Castello Branco em Boituva e o resto é história.

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