Recorde

Meu lugar seguro

Ricardo Contel
Ricardo Contel
16/10/2024 às 06:05

Como a programação neurológica, através de exercícios simples, podem maximizar a força interna de atletas ao trazer calma interna e a certeza de que vai dar tudo certo

Eu sou um dos muitos atletas que deixou de registrar os saltos realizados ao longo da carreira, infelizmente. Admiro aqueles que seguem registrando cada salto realizado para ter em seu histórico pessoal, o numero preciso de saltos que já realizaram em vida. Então, um belo dia resolvi fazer um cálculo de pouca precisão e, como tenho mais de 36 anos de paraquedismo, passei a dizer que tinha mais de 10mil saltos. Levando em conta que pratico o salto duplo todos os finais de semana a mais de oito (ou seriam sete?) anos dessa atividade profissional do nosso esporte, não acho que errei na estatística pessoal.
Mas além de um nobre “estivador”, eu já fui campeão brasileiro de FQL-4 e sou atual recordista brasileiro de grandes formações, tendo participado do 103 em Perris em 2013.
E foi nesse contexto, um tanto “enferrujado” em fazer saltos solos – e que dirá de big ways – que cruzei com o David e a Lidiane no CNP há pouco mais de 10 dias do evento em Tatui. Quando nos encontramos, David logo me cobrou: “Por que você ainda não fez sua inscrição no recorde?”. E eu de pronto respondi: “Uai, você ficou de mandar o convite…”. E nossa conversa terminou na resposta do David: “Você tá dentro, só fazer a inscrição!”.
Claro que por eu não ter participado de nenhum try out e estar há anos sem fazer saltos grandes, eu não estaria no time principal e precisaria provar aos capitães minha qualidade técnica e performance ao longo dos saltos de treinamento.
Bem, já sabemos que o evento não teve, em seus três primeiros dias, qualquer condição para realizar um salto sequer. O que nos trouxe para o penúltimo dia e lá estava eu no grupo dos reservas subindo para um 22way. Eu griparia numa base de quatro atletas pra depois, outros atletas griparem em mim pra fechar uma formação que parecia um polvo com 4 tentáculos. E lá estava eu, subindo a 17, 18mil pés e me borrando de medo. Medo de errar. De não chegar. De fazer feio.
Mas no dia anterior, André Ferraz nos deu uma palestra incrível sobre gestão das emoções e criação de resiliência emocional através de técnicas de respiração e memorização do objetivo a cumprir. Como se você rodasse um filme do salto perfeito, da performance esperada, para cumprir o objetivo brifado em solo.
Mas pra mim, a cerejinha do bolo daquela palestra, foi o tal do “lugar seguro”. Esse lugar é como a programação da nossa mente para nos chamar, nos deslocar, nos imaginar em algum local de paz e tranquilidade. Pode ser um lugar, pode ser uma pessoa… E enquanto o André dava a explicação de como armazenar na mente todo esse processo e estarmos prontos para executá-lo e entregar nossa melhor performance, como num estalo, veio a imagem da minha filha mais nova. Sofia que está chegando aos nove anos. Uma criança com uma energia contagiante e um sorriso reluzente e genuíno. Puro.


E foi a companhia da Sofia, segurando seu Stitch nos braços (que ela adora), que eu trazia pra bem perto de mim, enquanto eu estava de olhos fechados no avião, já respirando o oxigênio. Ao menor sinal de medo ou insegurança interna, Sofia chegava bem na minha frente, eu agachado olhando ela face a face e me falava com um sorriso largo e feliz: “Bom salto, Pai!”.
A sensação que reverberava na minha mente e coração era: “Boa diversão, pai! É só você ir lá e fazer, realizar, se divertir”…
E lá fui eu, instantes depois, me jogar do avião e sentir minha respiração calma, mas meu coração a mil. Cumprindo meu objetivo nos dois saltos da quinta feira como reserva. No final do dia, cruzei com o Pedrosan que me disse: “Amanhã você está no recorde!”. Fui promovido!
E lá estava eu novamente, no dia seguinte, minutos antes do lançamento, agora no grupo dos 108, respirando o oxigênio puro e sentindo a presença próxima da Sofia. Num hiato de preocupação, insegurança, incerteza da minha capacidade, lá vinha ela novamente, com um sorriso largo, dizer: “Bom salto, pai!”.
Fui lá e fiz!

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