Brasileiros fizeram parte dessa marca histórica num salto com 151 atletas, dois pontos e 28 nacionalidades
Em novembro de 2024, os céus do Arizona nos Estados Unidos, foram palco de um feito histórico no paraquedismo mundial. Um marco que reuniu 151 paraquedistas de 28 países diferentes, saltando a partir de sete aeronaves em formação sincronizada a uma altitude de 18.000 pés, culminou na realização de duas figuras completamente distintas e separadas em um único salto, o chamado “TOTAL BREAK”. Este foi um marco que não celebra apenas a técnica e a dedicação dos atletas envolvidos, mas também a união de pessoas de todas as partes do mundo em torno de um objetivo comum.
Paraquedista brasileiro há mais de 30 anos e agora duas vezes recordista mundial (108 way 3 pontos, Air Press #219), não há como descrever a sensação da conquista desse recorde, mas posso tentar. A emoção de ver centenas de corpos alinhados em perfeita harmonia no céu, rompendo barreiras físicas e mentais, é algo que ficará para sempre gravado na minha memória e certamente no coração de cada um dos participantes.
Grata surpresa
Foram reservados seis dias para as tentativas deste recorde mas surpreendentemente, no terceiro dia de saltos, o time superou as expectativas e conquistou o feito. A performance de cada integrante foi extraordinária. Entre os atletas, havia aqueles que dedicaram meses – ou até anos – a treinamentos específicos para este evento.
Cada um dos nove saltos que fizemos era uma oportunidade para refinar os detalhes. A precisão milimétrica na formação, o tempo exato para a separação na chave para a transição e a execução impecável da segunda figura, foram pra mim os pontos altos desse feito.
Ritmo para o recorde
Chegávamos na área todos os dias bem cedinho. O dia começava com o grupo montando a figura em pé no hangar do evento, já vestidos de macacão para logo na sequencia, levar todo o grupo pra fora do hangar, com os equipamentos nas costas. Lá treinávamos a saída das aeronaves, estudávamos o exit frame, e depois a aproximação cadenciada de cada um até chegar aos grips finais.
Depois de cada pouso, deixávamos os paraquedas para a dobragem e quem estava dobrando o seu próprio tinha até 30 minutos para nos reunirmos todos novamente em frente a um grande telão e acompanhar o resultado do salto e realizar o debriefing para os ajustes finos.
Esses eram feitos passo a passo com todos se esforçando em enxergar algum ajuste mínimo que pudesse se fer feito em sua performance para alcançarmos o tão sonhado recorde. Se alguém não estava performando bem nos saltos, corria o risco de ser substituído por algum integrante do Time B que consistia basicamente em campeões mundiais de FQL, com capacidade de entregar o job para garantir a construção da figura.
Depois do debriefing, tínhamos novamente perto de 30 minutos para relaxar, comer algo ou fazer novos amigos. Muitos dos que lá estavam eu conhecia de outros eventos técnicos que ocorreram ao longo da minha carreira. Em especial no Arizona onde estávamos. Mas também em Perris Valey, no mundial da Australia, de Chicago e outros grandes encontros com a nata do nosso esporte.
Estrutura de Skydive Arizona
A logística envolvida foi colossal. Sete aeronaves decolando em sincronia, transportando paraquedistas com diferentes idiomas, culturas e experiências, só foi possível graças à estrutura incrível da área de saltos de Skydive Arizona. Os capitães de times, os organizadores e os técnicos, desempenharam um papel fundamental na coordenação de cada etapa com precisão cirúrgica nos detalhes.
A equipe de apoio contava com vários dobradores de Skydive Arizona, para assistir aos atletas em suas dobragens. Alguns de nós optavam por dobrar seus próprios paraquedas, e outros optavam por poupar energia e manter o foco no trabalho que iriamos ter de realizar em queda livre.
Nenhum salto dessa complexidade torna-se uma realidade sem uma organização e estrutura impecáveis. A área de saltos do Arizona, com infraestrutura de ponta, permitiu que tudo fluísse com segurança e eficiência. Os capitães de equipe e os organizadores foram verdadeiros maestros, coordenando atletas, equipamentos e aeronaves com precisão. Foi uma demonstração clara de que, mesmo em um esporte tão individualista como o paraquedismo, o trabalho em equipe é essencial para o sucesso.
O legado que nos move
Para nós, paraquedistas de alta performance e profissionais do esporte, desafios como este são o combustível que nos impulsiona a treinar mais e buscando sempre evoluir. A participação em recordes não é apenas sobre a glória ou a conquista de um título. Trata-se de superar limites pessoais, de viver momentos únicos que nos conectam a algo maior que nós mesmos. É o tipo de desafio que nos lembra por que nos apaixonamos pelo esporte e nos motiva a continuar, ano após ano, saltando para novos avanços.
Como paraquedista brasileiro, estar entre os recordistas mundiais pelo segundo ano consecutivo é uma honra que carrego com orgulho. Representar nosso país em um evento dessa magnitude e colaborar com atletas de todo o mundo é uma experiência transformadora.
Este recorde não foi apenas um marco no paraquedismo mundial, foi também um exemplo do que a colaboração global pode alcançar. Reunir pessoas de 28 países, unidas por um objetivo e pela paixão ao esporte, mostra o poder transformador do paraquedismo.
Enquanto os céus do Arizona voltam à calmaria, o legado desse recorde continuará inspirando a todos nós. O próximo desafio já está no horizonte.
E enquanto houver céu, haverá sonhos a conquistar.
Nosso grande campeão
Sem dúvida alguma um destaque especial nesse evento foi para para o nosso Alisson de Vargas. Logo após o evento, ele foi anunciado como o mais novo integrante do renomado time Arizona Airspeed — simplesmente a equipe campeã mundial na modalidade mais competitiva do paraquedismo. Essa conquista não apenas reconhece o talento e a dedicação de Alisson, mas também eleva o nome do Brasil ao mais alto nível do esporte.
Ver um brasileiro entre os melhores do mundo é motivo de imenso orgulho para toda a comunidade paraquedista nacional. Estamos confiantes de que o novo line-up do Airspeed, agora com a força, técnica e juventude do Alisson, continuará escrevendo capítulos de sucesso na história do paraquedismo mundial. E tenho certeza que todos nós brasileiros estaremos torcendo pelo Alisson nessa nova fase promissora!