Segurança

O hábito da segurança salva vidas

Ricardo Pettená
Ricardo Pettená
13/11/2023 às 08:53

Segurança no paraquedismo vem da atitude de cada um de nós.

por Ricardo Pettená

Nosso esporte é de risco. Ele não é seguro. Por mais que usemos um DAA que acionará nossos reservas em situações extremas de quase morte, estaremos sempre sujeitos a nos acidentar a cada salto que fazemos. Por isso é muito importante que não só respeitemos e pratiquemos os protocolos de segurança em nosso esporte, como também sejamos de certa forma fiscais e promotores da segurança.

Quanto mais nos acomodarmos com o salto que deu certo, que nada saiu errado, menos nos importaremos com as questões básicas que envolvem a segurança no paraquedismo. Estatísticas comprovam que todo e qualquer acidente fatal que ocorre em nosso esporte, como na aviação, é sempre a soma de inobservâncias desses protocolos. Seja mentalizar o procedimento de emergência, atenção na navegação, ser previsível sem movimentos muito bruscos com o velame e até mesmo no simples ato de utilizar o cinto de segurança de forma correta na decolagem. O protocolo existe por conta dos estudos dos resultados estatísticos desses acidentes. Aqui vou ponderar sobre alguns deles, começando pelo Efeito Peltzman.

A falsa percepção da segurança

O fenômeno batizado de Efeito Peltzman, em homenagem ao professor de Economia da Universidade de Chicago, Sam Peltzman, é causado por uma falsa sensação de segurança por parte dos usuários de alguma atividade quando medidas de segurança são introduzidas.

Embora as medidas de segurança sirvam para reduzir os riscos, as pessoas e praticantes de atividades extremas tendem a se descuidar e aumentar os seus comportamentos de risco. De acordo com o Efeito Peltzman, quando medidas de segurança são implementadas, a sensação de risco tende a diminuir e os indivíduos passam a acreditar que podem tomar decisões e fazer manobras mais arriscadas.

O Efeito Peltzman já foi estudado e colocado em prática nas mais variadas atividades, inclusive no trânsito e nos esportes de risco. Ele também é chamado de compensação do risco, pois a falsa percepção da segurança faz com que os envolvidos numa determinada atividade relaxem e se submetam a um risco maior.

O pensamento do paraquedista que eventualmente se sente seguro pelo fato de que nosso esporte tem suas normas regulatórias que funcionam a cada salto seria: “Bem, se nada aconteceu comigo até agora, por que aconteceria nesse próximo salto?”. A partir daí ele passa a negligenciar esse ou aquele procedimento, protocolo.

Por outro lado, existe também o Efeito Peltzman ao contrário. Ele ocorre quando, por exemplo, um grande desastre aéreo acontece e tem muita repercussão. Nos meses e anos seguintes o índice de acidentes de aviação diminui. Isto se dá porque as preocupações aumentam e as empresas voltam a fazer mais e melhores manutenções. E os pilotos passam a ser mais cuidadosos.

Normalização do desvio

Voltando à questão da falsa sensação de conforto gerada após sermos bem sucedidos ao quebrar uma ou outra norma de segurança, sem que ocorra nenhuma anormalidade, nos acomodamos com esse resultado e nos tornamos complacentes. Não damos a devida importância e abandonamos alguns de nossos protocolos. A isso chamamos de teoria da normalização do desvio. Ela afirma que quando uma ação incorreta ou contra as normas é cometida e não produz um efeito negativo ou um acidente imediatamente, o cuidado passa aos poucos a ser negligenciado e o desleixo é adotado como normal… até o momento em que essa prática conduz a um episódio desastroso.

Da mesma forma, a teoria do queijo suíço nos mostra que criamos propositadamente várias barreiras de proteção no paraquedismo e em outras atividades de risco. Essas barreiras que diminuem os riscos são como as fatias de queijo suíço com buracos que, por sua vez, representam falhas na segurança. Os acidentes acontecem quando os buracos ficam alinhados.

Já notamos o Efeito Peltzman nos paraquedistas que fazem curso de controle de velame e depois sofrem acidentes ocasionados justamente por descuidos no pouso algum tempo depois do curso. Isso acontece pelo excesso de confiança numa habilidade que ainda não foi completamente desenvolvida.

Seja um fiscal das boas práticas. Elas salvam vidas

Portanto, não se descuidem. Fiquem sempre atentos e sigam os princípios, normas e regras de segurança. Revisem os procedimentos de todas as emergências, desde a decolagem até o pouso. Assistam a palestras e participem de rodas de discussão de segurança. Observem a operação da sua área de saltos e o comportamento de seus pares. No dia a dia das atividades de salto, não é incomum notarmos o descaso de colegas sendo displicentes e imprudentes em procedimentos corriqueiros em nossa operação.

Vou citar como exemplo o uso de cinto de segurança na decolagem. Como devemos colocar o cinto de segurança e ajustá-lo? Nós sabemos como. Mas também sabemos que alguns de nós apenas por uma questão protocolar, simplesmente colocam o cinto sem ajustá-lo ou até nem o fazem. É fundamental que coloquemos e ajustemos o cinto pois, num eventual pouso de emergência com todos a bordo, o fato de estarmos muito bem presos ao banco, pode fazer toda a diferença. Da mesma forma que é fundamental que estejamos praticando todos os protocolos de segurança e ajudando nossos colegas a fazerem o mesmo. Isso é uma questão de educação que nos conduz à almejada consciência coletiva da segurança.

Pratiquemos sempre um paraquedismo seguro.

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