Por Nathalia Bongiovanni
A 12ª edição do Ethernal Boogie ocorreu de 5 a 9 de Fevereiro de 2024 (segunda a sexta) no Skydive Club em Boituva, SP, grande evento de skydive na modalidade Free Fly. Jah abençoou a semana e entregou céus incríveis para os atletas. No chão, o DJ Varsone agitou com seu som na quinta e sexta, Chrystiann Reinaldo (@ocaradecamera) com os registros fotográficos dos melhores momentos e a Descola Wear com sua tenda de produtos à disposição de todos, inclusive oferecendo a camiseta oficial do boogie.
Os organizadores do evento, Paulo Perini e Paulo Pires, tinham a expectativa de receber 70 atletas e fizeram de tudo para entregar um evento grandioso e de qualidade a todos, com muita informação, segurança, briefings e debriefings a cada salto, tornando a evolução ainda melhor. O formato do boogie contou com sete grupos formados de sete atletas, incluindo o L.O. de cada um deles, misturando diferentes nacionalidades como argentinos, brasileiros, chilenos e outros. Os atletas participantes conseguiram realizar uma média entre 35 a 40 saltos ao longo da semana.
O grupo de L.O.s contou com grandes nomes do skydive como Paulo Pires (Brasil), Paulo Perini (Brasil), Luiz Prinetto (Venezuela), Luis Adolfo López Méndez (Venezuela), Oscar Asfura (Chile), Matias Baeza (Argentina), Petter Stensvold (Noruega) e Ben Lemay (Canadá). Outros nomes de peso também estavam presentes, foram eles Algy Alvarez Gen (Venezuela), fazendo as imagens dos saltos e Emilio Santa Coloma (Argentina), o criador do Ethernal em 2012 na Argentina, quando o evento ainda era pequeno e possuía apenas 15 participantes (AirPress #217).
Quanto ao funcionamento do evento, o manifesto e dobragem também foram extremamente importantes. Mais de mil saltos foram realizados entre dois aviões cedidos pela Skydive4Fun e as dobragens dos velames eram feitas com precisão e agilidade pelos dobradores ou os próprios atletas, mantendo um ritmo intenso de saltos.
Na quinta-feira, 8, foi prestada uma homenagem a Humberto Nogueira, um ícone do skydive que sofreu um acidente fatal no ano passado. Um vídeo foi apresentado a todos os participantes do evento e outros que estavam presentes no local, com entrevistas de amigos de Humberto falando sobre amizade e skydive. Um momento de muita emoção entre os participantes.
No fim do evento, o Skydive Club foi animado pelo DJ Varsone (figurinha carimbada do Ethernal) e muito chopp, encerrando com uma grande confraternização. O Ethernal Boogie não é só sobre skydive, mas também sobre a parceria, amizade e aprendizado de todos os participantes, fazendo do evento sempre um sucesso e tornando-o ainda mais Ethernal.
O Free Fly em destaque global
Um raio X do evento na ótica de um participante assíduo
Por Heric Stilben
Meu primeiro contato com o Ethernal foi em 2018 quando ocorreu na Skydive Andes, no Chile, antes de migrar para o Brasil e nosso grande amigo Bruno “Harebaba” Souto resumiu bem o evento: “O nome é boogie, mas na verdade é um camp”. Não vou lembrar de todos os Load Organizers presentes por lá mas destaque para Luís Prinetto, Luís Adolfo, Cláudio Cagnasso, Oscar Asfura, Manfi e Paulo Pires. Já entre os atletas, a presença do nosso inesquecível Paulinho Gesta além de Emílio Santa Coloma, criador e organizador do evento, e Matias Baeza, que conheci nessa viagem. De lá para cá a organização do Ethernal foi assumida por Paulo Pires e Paulo Perini após a “aposentadoria” de Emilio como frontman. (Mais informações, edição #217 da Air Press).
Centro mundial do Free FLy
Este ano, em fevereiro, foi realizada a 12ª edição do Ethernal em Boituva, SP, e eu não poderia ficar de fora. Ao longo dos anos, tive a oportunidade de frequentar diversos eventos de skydive em boa parte do mundo. Por isso falo com tranquilidade que o Ethernal está no top três da minha lista, sendo o maior evento de freefly da América Latina. O Ethernal pra mim, é tão obrigatório quanto o Natal em família. São cinco dias de treino com atletas de renome mundial na nossa própria casa, Boituva. Um luxo para poucos.
Aparentemente, Jah fez um pedido a São Pedro, que deu uma forcinha para nós e tivemos a semana inteira de céu azul, com seis a sete saltos por dia. Isso permitiu uma clara evolução dos grupos ao longo do evento. Tenho percebido uma elevação no nível técnico dos participantes nos últimos tempos, tanto é que comparando os grupos do Fly4life de novembro passado – o maior e mais famoso camp de FreeFly do mundo, que ocorre duas vezes ao ano em De Land, FL -, os atletas que estavam em De Land e vieram participar do Ethernal (brasileiros e gringos) eram já figuras conhecidas.
A presença de várias nacionalidades no Ethernal reflete a força e a relevância que o evento representa hoje no skydive mundial. E alguns participantes já são recorrentes, como o francês Guillaume Heiderijk, o “Bignoz”, que completou seu salto número 3.000 no último dia do evento em sua segunda participação. Além da França, havia representantes da Argentina, Chile, Suíça, Sérvia, Austrália, Inglaterra, Venezuela e Noruega. Isso sem falar no pessoal da China, que teve problema de visto no último momento e não pôde comparecer esse ano.
Nosso Betinho
Não posso deixar de citar no meu relato a homenagem que a organização fez ao final do quarto dia do evento ao nosso grande amigo Humberto Nogueira, que nos deixou em outubro de 2023. Foi uma noite muito especial que ficará marcada em nossos corações ao ouvir grandes amigos falando sobre nosso Betinho. Muita emoção nas palavras de cada um, finalizando a noite com o lançamento do documentário do recorde sul-americano de Head Down, feito conquistado em maio do ano passado, que teve o homenageado como um dos principais organizadores.
O que torna o Ethernal único
Passando agora para uma lupa técnica e ponto de vista mais pessoal da evolução do nosso grupo ao longo do evento, começo com a divisão dos Load Organizers, que caiu como uma luva. Iniciamos o evento com “La Maquina Chilena”, Matias Baeza (FlyOn), puxando saltos dinâmicos que envolviam absolutamente todas as dimensões de voo como o head down, angle feet first, angle head first, head up, e entre muitas transições.
Foi perfeito pois os atletas, já de cara, conheceram o estilo de voo de seus companheiros, entendendo os limites e o potencial do grupo.
Tanto que no dia seguinte, nosso Load Organizer Paulo “Le Poulet” Perini, veio me perguntar o que havíamos treinado com Matias. Relatei o dia em detalhes e Poluet demorou a acreditar quando eu disse “de tudo”. Assim, no segundo dia, com toda sua experiência como um dos mais qualificados instrutores de túnel de vento no mundo, começamos a afinar o voo de angle feet first.
Já no terceiro dia pegamos um dos caras mais gente finas do esporte, o chileno Oscar Asfura, que atualmente está radicado na Noruega. Com sua didática baseada em metáforas (ex: a posição do corpo no angle flying como uma “pasta al dente”, nem duro nem mole), manteve o grupo fazendo o mesmo salto de angle head first, acrescentando novos movimentos a cada jump. Um método de aprendizagem poderoso baseado na repetição.
No quarto dia caímos com Luís Adolfo (Fly Warriors), uma das lendas do esporte e atual organizador do recorde mundial de Head Up. A técnica de repetição manteve-se como nos dias anteriores, porém, em uma body position invertida: saltos de angle feet first do início ao fim, exaustivamente.
E no quinto e último dia, nosso LO foi o norueguês Petter Stensvold, um dos representantes da nova geração do Free Fly, com um voo fluido e extremamente veloz, além de muito gente boa.
Isso foi apenas para dar um gostinho do que é uma semana de Ethernal, com muito aprendizado técnico (digno de um camp) e uma vibe sem igual de saltos alucinantes e DJ todos os dias (digno de um Boogie). E não posso deixar de mencionar outros LOs presentes: Luis Prinetto (Fly4Life), Ben Lemay (Fly4life), Paulo Pires (FlyOn) e o câmera do evento, Argy Alvarez (Fly4life).
Uma escolha difícil
Na sexta à noite me perguntaram qual foi o LO que mais gostei. Não é a primeira vez que fazem esse tipo de pergunta e normalmente me sinto confortável em dar uma resposta, já que é algo muito pessoal, como gostar mais ou menos de um professor. Mas por mais que já tivesse voado com todos anteriormente, foi difícil responder. O que posso dizer é que no quarto dia, conduzidos por Luís Adolfo, me marcou muito já que angle feet first é minha posição mais fraca. Nesse dia acabei tendo mais evolução por conta de várias “viradas de chave” que o Luis me proporcionou ao longo do dia.
Encerro o texto citando uma frase da Marcela Prado, uma das inscritas, que resumiu bem o que se tornou o Ethernal: “é um Fly4life em Reais”. De fato, se você também quiser ver o Mickey, não perca a oportunidade de ir alguma vez pra Flórida participar de um dos camps em Deland. É uma experiência realmente incrível. Mas nossa cidade, que já é reconhecida como o Centro Nacional de Paraquedismo, o Ethernal deste ano, consolida Boituva como o Centro Latino-Americano do Free Fly.
Blue skies!
Em casa é melhor
Por Sol Genova Perini
O Ethernal é o maior evento da América do Sul, onde temos a oportunidade de saltar com grandes LOs do mundo todo, só que em nossa ‘casa’.
O diferencial que me faz sempre querer estar presente é saber que vou saltar entre amigos, já que pra mim é muito difícil juntar essas pessoas e saltar fun, isso tira um pouco a pressão de saltar em um evento internacional pois na maioria das vezes eu não conheço ninguém do grupo, o que é ótimo, pois dessa maneira acabamos conhecendo pessoas do mundo todo e por outro lado um pouco de pressão por ter que performar bem e manter-se no grupo até o fim.
Comparando com todos os outros grandes camps que já participei no mundo afora, o Ethernal não deixa a desejar em nada. Nosso nível técnico de atletas aumenta a cada ano e a estrutura fornecida pelo evento é super confortável com DJ durante o dia de saltos e à noite, impondo um clima super agradável. E quanto ao calendário, na maioria das vezes, ele vem sendo realizado perto do Carnaval, o que traz um atrativo para os gringos conhecerem nossa cultura, aproveitando a trip para o Brasil.
E por último, por mais que me considere suspeita pra falar, eu amo Boituva. E é muito bom podermos oferecer nosso Centro Nacional ao paraquedismo mundial e dar essa chance de eles conhecerem nosso país saltando com atletas da América Latina de altíssimo nível.
Até o próximo!
Técnica, vibe e brasilidade
Edu Coelho – FreeflyCouple
O Etherrnal Boogie 2024, sediado em Boituva, foi uma experiência inesquecível marcada pela qualidade técnica dos organizadores e pela atmosfera única criada pela comunidade global de skydivers participantes. Durante cinco dias de sol e condições perfeitas para saltos, os inscritos realizaram uma média de sete saltos por dia, mergulhando em uma semana com muito aprendizado e diversão.
A vibe amigável e descontraída dos grupos adicionou uma dimensão especial ao evento, combinando a seriedade do treinamento de um Skills Camp com a “brodagem” típica de um Boogie.
A interação entre pessoas de diferentes nacionalidades vindos da América do Sul, Europa, EUA, entre outros, trouxe uma riqueza cultural única, enriquecendo ainda mais a experiência para todos os envolvidos. Os Load Organizers de renome mundial, que trabalharam com cada grupo, garantiram uma experiência de alta qualidade para todos os participantes. A organização impecável do evento contribuiu para um clima acolhedor e positivo, tornando o Ethernal Boogie uma verdadeira celebração da comunidade global do freefly e do skydiving.
Na minha visão, o evento está em pé de igualdade com outros eventos de treinamento que participei fora do Brasil, com a grande vantagem de saltar no quintal da minha casa, Boituva, repleto de amigos e com o velho e bom tempero da brasilidade.
Até o próximo!
Eterno
Honrando seu nome, o Ethernal Boogie segue em destaque, além do evento mais antigo da América do Sul e talvez do mundo.
Por Luis Adolfo
Para mim tudo começou em 2013, quando Gustavo Cabana me disse que seu grande amigo Emilio Santa Colomna havia iniciado um evento em La Cumbre, Argentina, com Luis Prinetto como L.O.. Gustavo fez a apresentação e Emilio me perguntou se eu queria participar do evento. De início ele não poderia cobrir minha viagem – nossa conversa aconteceu depois que ele pagou todas as despesas – mas resolvi tentar.
Com o Gustavo fizemos uma viagem incrível pela Argentina, chegamos em La Cumbre e fiquei mais do que surpreso com a localização, restaurante e instalações – que lugar para sediar um evento de paraquedismo! Nos divertimos muito e Emilio me perguntou se eu queria voltar no ano seguinte. Aceitei com a condição de que Luis Prinetto se juntasse. Luis P e eu realizamos o evento como um Camp de habilidades e não como um Boogie, o que deu ao Ethernal muito espaço para os inscritos desenvolverem suas habilidades de voo.
A cada ano o evento acrescentava mais um LO, e o evento começou a crescer. Espalhou-se a notícia de que o evento era incrível e cada vez mais participantes viajavam para La Cumbre. A vida era boa, mas como tudo na vida, as coisas mudaram e La Cumbre não podia mais oferecer a Emilio o que o evento precisava. Então The Ethernal se despediu de La Cumbre.
O evento voou para o sul, para o Chile, e fez parceria com a Skydive Andes. A essa altura o Ethernal já era um grande sucesso e tínhamos seis grupos com treinadores de classe mundial. A América do Sul voltou a estar no mapa do paraquedismo. Após alguns eventos no Chile, Emilio, em sua busca por sempre melhorar e fazer crescer o evento, mudou o The Ethernal para Piracicaba, Brasil.
O Brasil é incrível! Venho ao Brasil há mais de uma década e adoro o país, as pessoas, a comida, a infraestrutura para realizar eventos de alta qualidade. Foi um espetáculo o resultado. Tivemos um evento incrível com nove grupos com talentos locais e internacionais de alto nível. Foi um bom começo para a etapa brasileira.
Justamente quando você pensa que não pode melhorar, Emilio novamente se esforçou e deslocou o evento para Foz de Iguaçu – um lugar sem igual onde saltamos sobre as lendárias cachoeiras com vistas deslumbrantes do céu. Mais uma vez, a nova etapa do evento um sucesso total.
Depois de uma década organizando o Ethernal, Emilio anunciou sua vontade em deixar o cargo de organizador e entregou o evento a Paulo Perini e Paulo Pires. Os “Paulos” são seres humanos tão incríveis quanto voadores. E juntos formaram uma dupla poderosa para assumir a administração do evento. Ambos têm muita experiência em organização de eventos no Brasil e fazem parte do Brazilian Skydiving Storm.
No ano seguinte, da celebração dos dez anos do Ethernal, decidiram que Boituva seria o lugar certo para dar continuidade ao legado criado por Emilio e assim seguimos para o próximo capítulo de The Ethernal Boogie.
Foi uma jornada longa e emocionante e estou muito grato pela oportunidade de retribuir ao meu continente, a América do Sul, e ajudar a colocá-lo no cenário mundial do paraquedismo. Sinto-me privilegiado por fazer parte disso. Nunca me ocorreu, desde quando comecei a saltar de paraquedas em 1999, em um Cesna 182 na Venezuela, que um dia estaria presente no Ethernal, fazendo parte dessa magnitude, treinando a próxima geração sul-americana de freefliers. Um sonho realizado.
Vamos ver o que o futuro trará, mas tenho certeza de que muitas coisas boas estão por vir.
Vejo vocês ano que vem!