Um tributo a Marcos Padilha e Gustavo Garcez
Como nosso esporte cativa e molda grandes amizades e, ao mesmo tempo, pode nos tirar o que nos é mais precioso.
O ano de 2016 trouxe duas perdas inimagináveis para o nosso paraquedismo. Um acidente envolvendo dois atletas altamente experientes, que realizavam juntos com outros 28 colegas um salto de treinamento para uma apresentação que deveria ser efetuada na abertura das Olimpíadas do Rio, os arcos olímpicos e acabaram colidindo seus velames a aproximadamente 30 metros do solo e faleceram com o impacto, próximos ao alvo de Boituva.
Os dois eram unanimidade em nosso meio pela experiência, camaradagem, carisma e alegria. Gustavo Garcez, o Guga, e Marcos Padilha envolveram-se em uma colisão na aproximação final para o pouso do último salto daquele 29 de Junho. Um utilizava um velame relativamente dócil e outro, um velame de alta performance.
Em se tratando de duas pessoas que sempre primaram por um esporte seguro, atuaram como instrutores formando alunos ao longo de anos, o ocorrido foi um choque para o nosso meio. Muitas lições ficaram, mas os amigos partiram. Jovens.
João Carlos Mansur, o Joca, sócio do Padilha e um grande amigo pessoal, sofreu com a perda por sete anos. Parou de saltar, inclusive neste tempo todo, nem em Boituva retornou mais, mas nunca deixou de sentir a vontade latente em nossa alma de voltar a voar. Aos poucos voltou a voar em túnel de vento para competir em 4-way (modalidade que praticou com Padilha por quase 10 anos) mas a Pandemia e uma situação de saúde atrasaram seus planos de regressar ao nosso amado esporte.
Eis que, depois de longa espera, reuniu grandes amigos e atletas altamente experientes para realizar saltos de sequencial nos céus de Boituva em homenagem aos dois amigos que se foram e, claro, celebrar a vida.
Fabio Diniz, um dos amigos convidados para o encontro, escreveu o texto abaixo que traduz bastante o que é saltar. E não é só sobre paraquedas, paraquedismo ou aviação. É sobre o amor envolvido nas amizades que construímos durante nossa vida e nosso contato com essas pessoas para lá de especiais que se jogam aos finais de semana de uma aeronave com seus paraquedas.
Guga e Padilha, onde quer que estejam, vocês foram celebrados no dia 07 de agosto com um encontro para lá de especial no CNP e inauguraram o “Friends Never Dies”, que já tem a primeira segunda-feira de Agosto de 2024 como data de reencontro.
Os melhores amigos a gente conhece em queda livre
Por Fabio Diniz
O paraquedismo me trouxe os melhores amigos, as melhores oportunidades, as mais profundas risadas, as melhores e inesquecíveis lembranças. Me trouxe até aqui, me fez ser quem eu sou e também me ensinou a enxergar o mundo e as relações de uma maneira bem diferente do restante da população.
O paraquedismo de times de competição, de recordes, de eventos, e de alto desempenho, nos conecta pela parte mais profunda de nossas almas. Cada um à sua maneira, mas sempre de forma profunda e genuína!
O paraquedismo não apenas saltar de um avião, treinar, ganhar campeonatos e quebrar recordes, não!
O paraquedismo é o olhar silencioso a mais de 200km/h que diz tudo. É a confiança que aprendemos a ter no outro quando nossa própria vida literalmente depende dele
O paraquedismo não é feito de aeronaves, equipamentos, atmosfera e execuções.
O paraquedismo é feito por pessoas especiais que, por alguma razão que nunca ninguém saberá explicar, nos torna diferentes, conectados e sintonizados como nenhum outro esporte poderia chegar perto.
Sinto-me agraciado pela vida, com tanta generosidade dada a cada um de nós!
O que aprendemos na DZ e no céu é único, ímpar e jamais serão esquecidos por cada uma de nossas células, espírito e mente. Vocês todos são, cada um à sua forma, a prova viva de que sim, somos especiais, conectados por forças ocultas ao nosso entendimento, mas que agem diariamente em nossas decisões, como pais/mães, como profissionais, como amigos, como cônjuges, como atletas e em todas as esferas que permeiam nossas vidas.
A maior prova disso é este encontro, organizando pelo Joca, que não é apenas um encontro de amigos especiais e conectados. É a reunião de espíritos únicos, diferenciados, especiais e que acima de tudo, têm o imenso prazer de estarem reunidos, simplesmente porque são o que são!
Parabéns e obrigado Joca por mover tantas pessoas especiais e reuni-las numa data também tão especial!
Falta pouco para podermos, sem pronunciar uma única palavra, sentirmos em nossos corações, em nossas almas e em nossas mentes, tudo isso que somos e que nos faz estar conectados, independentemente de tempo e distância.
Até daqui a pouco
Depoimento emocionado de Marcia Farkouh após pousar
de um dos saltos do evento, prestando homenagem aos
dois amigos e a celebração da vida.