Sete dias de encantos, bons saltos e uma organização impecável, tendo como cenário um arquipélago caribenho
Texto e fotos Edu Coelho
Em Novembro me deparei com informações sobre um evento de paraquedismo que seria realizado na Venezuela. Inicialmente ele não me chamou muito a atenção. Mas assim que vi as primeiras fotos do destino, o Arquipélago de Los Roques, e soube que um grande amigo meu, o Cotô do Freeflow, participaria, comecei a me interessar e segui pesquisando.
Seria a primeira edição no destino organizada pela Fyre Parachute, empresa especializada em eventos para paraquedistas com o diferencial de ser em destinos exóticos como Maldivas, Egito, Bahamas, entre outros. Eu já tinha participado de um evento com eles nas Maldivas e gostei muito do trabalho e postura dos organizadores.
Decidi dar uma chance à Venezuela e me inscrevi na segunda semana do evento que era mais ao estilo de um boogie. Já a primeira semana seria direcionada a um Skills Camp apenas de freefly.
Para chegar na Venezuela peguei um voo de Sampa até o Panamá de quase 7 horas. Depois mais duas horas até aterrissar em Caracas por volta das 14 horas.
Já na capital do país fui recebido pela organização que providenciou um transfer do aeroporto para o hotel. Pernoitei por lá próximo ao aeroporto e na manhã seguinte, a organização nos conduziu de volta ao aeroporto de Caracas e embarcamos para a Ilha de Los Roques num voo doméstico de 45 minutos. O voo foi em uma aeronave pequena com a previsão de pousarmos na ilha pelas 8h da manhã para o primeiro dia do evento, sem saltos previstos. Apenas um briefing geral com todos, explicando a mecânica do evento e regras de segurança.
Quando o nosso avião se preparava para o pouso, ficou claro que aquele lugar seria incrivelmente lindo de se saltar e conhecer. A beleza lá de cima lembrava muito as Maldivas e era realmente de cair o queixo. Havia acertado em cheio na decisão de participar.
Parque Nacional Caribenho O arquipélago de Los Roques tornou-se Parque Nacional a partir de 1972 com pouco mais de 40 ilhas e ilhotas, espalhadas por uma área com mais de 40km de extensão e distribuídas nos tons de azul do mar caribenho de águas cristalinas e areia clara e fina.
Essa, fruto de centenas de anos da decomposição dos corais. O contraste entre as areias e águas paradisíacas, de uma transparência quase infinita, faz do destino caribenho um dos mais belos e pouco conhecido das Américas.
Sua população de pouco menos de 2.000 habitantes está localizada quase exclusivamente na ilha Gran Roque, onde foi construída a pista de pouso. Ao chegar na ilha, uma situação peculiar: os trajetos são percorridos ou a pé quando se está em terra firme, ou por pequenas embarcações, barcos ou catamarãs, especializados no turismo local. Ou ainda barcos de pescadores. Esses dão acesso às diversas opções de ilhas desabitadas ou pontos de mergulho de incrível beleza submarina. No arquipélago, existe apenas um veículo que faz o transporte da água para as casas dos moradores e demais estabelecimentos.
Este isolamento, as normas restritivas do Parque Nacional e o alto preço da viagem, tem ajudado a manter o destino em bom estado de conservação.
O arquipélago abriga mais de 80 espécie de aves entre Pelicanos, Petréis, Fragatas e até Flamingos e Canários. Além é claro, de uma vasta vida marinha com destaque para quatro espécies de tartarugas. E todas as ilhas, com exceção de Gran Roque, possuem belas praias. Por isso o barato do rolê por lá é, depois do café da manhã, escolher uma ilha pra passar o dia. Algumas mais populares, possuem atividades comuns aos turistas como pesca esportiva, kite surf e a mais praticada, mergulho livre e autônomo.
Hotelaria local
Na ilha de Los Roques os participantes foram acomodados em diversas pousadas pequenas e muito charmosas. Logo que chegamos, fomos recebidos pela organização no aeroporto, que nos levou à pé até nossa pausada. Todas muito simples, mas de um aconchego e decoração pra lá de especiais. Cada uma ao seu estilo. A minha era ao lado da pista e assim que chegamos com meus companheiros de pousada, a gerente se identificou nos dando as boas vindas e, na sequencia, apresentou toda a equipe que nos assistiria ao longo de nossa estadia.
Aquilo foi incrível. Um a um, nome a nome, conhecemos cada um dos colaboradores. Desde o cozinheiro, seu ajudante, as camareiras, até chegar na garçonete que nos serviriam todos os dias de nossa permanência na ilha. Parecia que estávamos sendo recebidos por uma família em sua casa. Nossa pousada tinha apenas cinco aposentos. Todas elas, na sua maioria, são pequenas, simples, mas surpreendentemente aconchegantes, oferecendo a pensão completa com café da manhã, almoço e janta. Sendo o almoço, geralmente um lanche levado em coolers às ilhas que são visitadas a cada dia. A estrutura das pousadas e hotéis são simples. As mais sofisticadas oferecem banho quente e ar condicionado. Restaurantes e bares não são comuns na ilha, pois cada hospedagem possui sua própria cozinha que recebe não hóspedes para o jantar. Peixes e frutos do mar são os pratos mais servidos.
O Boogie
O modelo desse evento é um pacote de 15 saltos mais hospedagem e alimentação por sete dias ao custo de USD3.750 a USD3.950 por participante, dependendo da pousada a ser escolhida. O pacote inclui absolutamente tudo no evento. A hospedagem, os saltos, as refeições e até as bebidas.
A realização do Boogie envolve uma certa logística complicada, mas que permite ao participante curtir bons saltos e viver momentos inesquecíveis no arquipélago. A rotina era sempre a mesma para os saltos. Decolávamos da pista de Gran Roque e éramos lançados na ilha de Madrisqui, onde pousávamos. Essa, uma das ilhas mais visitadas de Los Roques. As áreas para o pouso eram duas e distintas. Uma para os swoopers e outra para os atletas mais conservadores.
Esse evento tem limitação de categoria. Apenas a partir de C podem participar. Em Los Roques o vento é forte, mas constante, o que garante uma relativa previsibilidade para os pousos. Flutuadores eram recomendados e disponibilizados, mas poucos se utilizavam deles. Nenhum incidente foi registrado, salvo dois pousos em águas, sem profundidade, resultando apenas num pouso molhado.
Depois do salto e com os paraquedas em mãos, embarcávamos em speed boats (lanchas) que nos levaria para a ilha Francisqui. Outra muito popular por lá. Nela havia uma estrutura montada com área de dobragem para nos prepararmos para o próximo salto ou curtirmos a ilha que oferecia uma praia caribenha deslumbrante, com outras opções de laser. Entre elas o kite surf, snorkeling em vários pontos com corais e um em especial onde afundaram a imagem de uma santa que acabou atraindo muita vida marinha.
Para o almoço sempre tínhamos um cardápio surpresa que respeitava as restrições alimentares e preferências de cada um. O almoço era entregue na ilha de Fransisqui, a principal do evento, em coolers personalizados com o nome de cada hóspede.
Para montar a estrutura nessa ilha, todo dia de manhã um barco levava cadeiras e guarda-sol para lá. Quando você chegava do primeiro pouso, estava tudo montadinho te esperando. Todo dia eu ficava encantado com aquela visão. O que teria de mais VIP do que isso? Acomodados em Francisqui, depois do primeiro salto do dia, pra quem estivesse no pique de saltar, bastava pegar a lancha com seu paraquedas dobrado e voltar pra Gran Roque pra seguir saltando. Devido ao vai e vem, ilha pra lá, ilha pra cá, o máximo que se consegue saltar em um dia, são 4 a 5 saltos. Mas com tanta exuberância a explorar, saltar chega a ser quase a segunda opção da trip.
Eu realizei no total os 15 saltos inclusos no pacote. Quem decidiu seguir saltando, pagou por salto extra.
Tivemos um único dia de Weather Hold o que não foi problema estando no paraíso. Nos outros, alguma chuva que passava rápido. A temperatura por lá tem uma característica interessante. Ela é constante tanto no dia como na noite, por volta de 27ºC, não havendo necessidade de ar condicionado nas pousadas, apesar de algumas terem, como foi o meu caso.
E por fim, num dos dias do evento, o organizador realizou os saltos em uma ilha alternativa, chamando o dia de “Secret Island Jump”. Após pousarmos por lá, fomos recebidos para um delicioso churrasco, regado a cerveja e drinks especiais inclusos no pacote. Todos os inscritos, mais a comissão organizadora, passaram a tarde por lá, na tal “ilha secreta” perdida no meio de um pequeno e incrivelmente belo paraíso caribenho. No final da tarde, perto do pôr do sol, todos embarcamos nas lanchas e voltamos a Gran Roque.
Família e alta Gastronomia
Definitivamente esse evento é adequado para paraquedistas que viajam com familiares não paraquedistas. O local permite várias atividades extras e uma vasta opção de passeios incríveis. Além de uma culinária muito saborosa e requintada.
Todos os dias os jantares eram servidos às 20h nas pousadas e sempre havia uma deliciosa aventura gastronômica dos chefs. Os pratos, a cada noite, surpreendiam. Sempre muito exóticos, bem finalizados e apresentados, além de saborosíssimos. E a preparação era feita na cozinha que havia comunicação com a sala de estar. Enquanto o chef preparava o nosso jantar, batia um papo descontraído conosco. Depois da refeição, nos deslocávamos para a pousada onde estava a organização e iniciávamos o ritual da finalização do dia de saltos: Breja, vídeos, troca de experiências e programar o dia seguinte.
Grand finale
Na ultima noite, uma festa animada com DJ e um telão passando todos os saltos do evento que foram distribuídos entre grupos e organizadores de nível internacional nas modalidade de free fly, FQL (barriga) e Wing Suit. Esse último encontro com todos deu o tom do encerramento de uma experiência realmente única e surpreendentemente bem organizada aos mínimos detalhes. Certamente vão deixar boas memórias em nossas almas.
Sempre que volto de um evento de paraquedismo me pergunto se retornaria na próxima edição. No caso de Los Roques, já saí de lá sabendo que retornaria. Esse evento já está no top três da minha preferência. E pra este ano, ainda não teve a data confirmada, mas já foi sinalizado pelos organizadores que possivelmente acontecerá no mês de Novembro. Até lá, então!