O desafio do XWR, modalidade que redefine os limites do voo nos céus
O paraquedismo sempre foi uma mistura equilibrada de emoção, técnica e superação de limites. Dentre as muitas vertentes que desafiam atletas e encantam o público, o XRW – sigla para Cross Relative Work Ou Extreme Relative Work– é uma das modalidades mais inovadoras e empolgantes, fundindo o que antes consideradas distantes: o wingsuit e o canopy piloting.
O Que é XRW?
A modalidade consiste na realização de formações no ar entre pilotos de wingsuit e paraquedistas sob velame de alta performance. O maior diferencial do XRW está na complexidade técnica envolvida para unir esses dois mundos distintos em um voo coordenado, exigindo um domínio excepcional de cada disciplina.
Breve História e Evolução
O XRW surgiu de experimentos ousados nos anos 2000, principalmente nos EUA e na Europa, à medida que tanto os wingsuiters quanto os paraquedas de alta performance evoluíam em design e aumento da performance no voo horizontal.
Os primeiros saltos de XRW eram, em sua maioria, tentativas de aproximação entre as modalidades, sem grips. Mas com o aprimoramento da técnica e dos equipamentos, as formações começaram a surgir, tornando-se eventos populares em encontros de paraquedismo e gerando imagens que enchem os olhos. Desde pessoas comuns até os paraquedistas mais veteranos e experientes.
Hoje, o XRW é considerado um segmentos de voo à parte na prática do wingsuit e com certeza um dos que mais fascina e desperta interesse graças à beleza envolvida em suas formações, sua complexidade, precisão e, não se enganem, ao risco inerente quando se junta duas modalidades tão distintas.
O XRW tem desafios que agregam alto grau de dificuldade como a necessidade de de performar num voo extremamente lento para o piloto de wingsuit. Já no lado do piloto e seu velame, o wing load precisa ser altíssimo, algo em torno de 3.5 com velames minúsculos e de altíssima performance. No pouso as velocidades são desses velames são assustadoras, o que torna o salto altamente restritivo quanto à experiência do piloto. Precisa ser alguém muito experiente pois existe ainda o risco de colisões durante o voo entre os wingsuiters e o piloto do velame. Um erro em qualquer um destes momentos, pode levar a uma situação desastrosa.
Grau técnico do salto
A dificuldade técnica do XRW reside, principalmente, em alguns pontos que vamos listar a seguir:
Timing de saída – Já no início, o timing de saída entre os pilotos dos velames e os wingsuiters é fundamental, não podendo perder o contato visual em momento algum, uma vez que todos saem do mesmo avião. Próximo de ocorrer o encontro, o piloto de velame já precisa estar pronto quando os wingsuiters chegarem, tendo feito todo o preparo no velame e apto a “apenas” voar reto. Mas em altíssima velocidade.
Aproximação – É uma missão quase que exclusivo dos wingsuiters, que precisa antecipar a leitura da razão de queda e velocidade com o velame e seu piloto durante todo o momento após a saída do avião. O wingsuiter precisa contar com seu feeling e expertise, uma vez que não há aparelhos a auxiliar no voo. A saída da aeronave precisa ser ágil o suficiente para estabelecer imediatamente – e manter durante todo o salto – uma boa razão de planeio, mas sem chegar alto demais ou rápido demais.
É um trabalho delicado e preciso que precisa ser realizado o mais rápido possível para que se tenha o maior tempo de voo próximo afim de realizar essa formação híbrida e, claro, divertirem com a realização.
Mantendo a formação – Após uma boa aproximação, o wingsuiter uma vez que se coloca próximo ao velame, precisa controlar o glide (razão de planeio) e velocidade para manter a razão de voo compatível com a do velame, sem mudanças bruscas ou derivações em sua trajetória pois a proximidade com as linhas do velame não permite essas oscilações. Nesse momento, um erro pode ser fatal. Essa “convergência” de velocidades e perfis de voo só é possível com pilotos altamente experientes.
Grips ou grandes formações – Fazer grips ou manter grandes formações lado a lado com um alto numero de atletas no mesmo voo, deixa mais divertido, mais bonito, mas também aumenta exponencialmente os riscos envolvidos, demandando extremo controle corporal, percepção espacial apurada, frieza, técnica e comunicação eficiente. Qualquer movimento abrupto ou erro de cálculo pode causar separações involuntárias ou situações de alto risco.
Gestão de riscos e decisões rápidas – O XRW ocorre a altitudes intermediárias, onde o tempo de resposta a emergências é curto. O atleta deve ser capaz de analisar cenários rapidamente e executar separações seguras ainda mais cedo do que em outras modalidades. No momento de risco a frieza, e a tomada de decisão certa, pode ser o diferencial para uma situação extrema.
Modalidade extrema
Por esses motivos acima listados, o XRW é considerado uma modalidade técnica, exigente, e perigosa caso feita de maneira errada. Por isso ela é reservada a praticantes com ampla experiência tanto em wingsuit quanto em pilotagem de velame. Trata-se de uma disciplina onde cada detalhe conta, e a margem para erro é mínima, tornando o domínio técnico não apenas desejável, mas indispensável.
Cultura e Comunidade XRW
A comunidade XRW é pequena, mas muito unida. A base é composta por atletas com centenas (normalmente milhares) de saltos, vasta experiência em ambas as modalidades, e que investem tempo em treinos em túnel de vento, saltos de pillotagem e voos de wingsuit em grupo.
Eventos XRW são frequentemente realizados em boogies especiais, com instrutores renomados, e atraem atletas do mundo todo para tentar novas formações, desafios e, claro, produzir momentos impressionantes para quem pratica e para quem assiste.
O Futuro do XRW
O XRW está em constante evolução. Novas técnicas, trajes, velames e métodos de filmagem ampliam as possibilidades e desafiam limites. O grande objetivo a médio prazo é normatizar algumas práticas e criar competições regulares, tornando a modalidade ainda mais popular e segura.
A popularização dentro do nosso meio depende também da disseminação de informações e treinamentos de qualidade, sempre reforçando que o XRW exige preparo acima do padrão, tanto físico quanto mental.
Dicas para quem quer começar
Tenha experiência suficiente. Atletas interessados em experimentar essa modalidade extrema, devem ter amplo domínio da sua modalidade principal, seja ela o wingsuit ou canopy piloting. E procure um mentor/instrutor notoriamente experiente. Jamais tente o XRW sem orientação profissional de alguém que já possua larga experiência.
Invista em equipamentos adequados. Não improvise com wingsuits ou velames que não sejam próprios para esse tipo de prática. Participar de eventos e treinamentos, integrando-se à comunidade é o ponta pé inicial, onde você poderá observar os mais experientes que já praticam esse tipo de salto, e assim poder estudar o voo através dos vídeos e as táticas dessa galera.
E por fim, e mais importante: Respeite os seus limites!!!
O XRW não é para todos, e tudo começa pela sua modalidade de escolha e seu próprio autoconhecimento.